quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

Segredos



Isto é uma violação do segredo de justiça:
Hoje o cão cá de casa fez uma mija onde não devia, alegadamente por ciúmes. E, além dos ralhetes e impropérios, ainda levou umas palmadas nos quartos traseiros.
Quando, quem, o quê, onde e porquê.
Responde a todos os quesitos do jornalismo. Acrescidos das consequências.
E é uma violação do segredo de justiça porque, mesmo tendo sido aplicada a justiça, o que acontece em casa deve ficar em casa.
As demais violações do segredo de justiça, que os pasquins ou não tanto vão fazendo, são ignóbeis e criminosas. Ao escarrapachar em público aquilo que não passa de eventuais suspeitas, sem acusação formada nem provas apresentadas.
Na ânsia de vencer a concorrência, arrastam os jornalistas na lama reputações que, a verificarem-se as suspeitas infundadas, nunca têm direito ao mesmo nível de divulgação a inocência dos que sujaram.
E, de caminho, arrastam-se os jornalistas na mesma lama. Mas, de tanto e tão repetidamente nela chafurdarem, agarra-lhe na pele e dificilmente sai.

Ainda há os que não o fazem. Mas são raros!

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Life



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terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Cívicos



Junto a uma importante estação ferroviária e em frente a um cosmopolita centro comercial, um carro de polícia. Com as luzes de emergência acesas.
Pensei tratar-se de alguma intervenção mas, afinal, mais não era que uma acção de policiamento de rotina: os agentes patrulhavam em redor, fora do meu alcance visual, e deixaram as luzes acesas para reforçar a visibilidade da sua presença.
Até aqui nada de anormal.
Mas eu pensei que bem fariam eles em terem atitudes pedagógicas para com todos os peões que, ignorando heroicamente os semáforos, atravessam a passadeira por entre os carros. Alguns de bengala, outros com crianças pela mão ou em carrinho.
Em havendo algum acidente, bem que podem dizer que tiveram pouca sorte, que o que tiveram foi falta de juízo!
Pensava eu isto quando passam por mim outros dois agentes da PSP.
Desta feita de bicicleta regulamentar, com tudo o que é suposto terem no cinto mais o capacete na cabeça.
Fiquei a vê-los a rolar no largo passeio até que em chegando eles a um outro semáforo, o ignoraram como os demais, passando o vermelho enquanto outros cidadãos aguardavam o verde.
Ainda pensei tratar-se de uma emergência, mas estava enganado. Enquanto um ficava cá fora guardando as biclas, o outro foi ao interior de uma loja de telecomunicações tratar de um qualquer assunto relacionado com o seu telemóvel.

Pergunto-me como se pode ter uma sociedade cívica e segura quando são os próprios cívicos que ignoram as regras e os códigos. Das estrada ou outros.



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segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Do contra



Em torno de tudo se pode contar uma estória. Basta olhar para o que quer que seja e dar asas à imaginação.
Sobre esta metade de laranja posso imaginar como as flores que lhe deram origem escaparam a um casamento e foram objecto de uma salutar orgia de insectos que as polinizaram. Posso ainda imaginar mãos a colhe-las e depositá-las em caixotes, que seriam levados para calibre e posterior venda. E ainda posso imaginar estar ela, junto com irmãs e primas num escaparate de um mercado ou lugar de hortaliça e a ser apalpada, metida num saco, pesada e trocada por dinheiro. Até chegar aqui e ser violentamente seccionada e esburacada.
Só parte desta estória é passível de ser verdade. A partir do momento em foi colhida não foi enviada para escolha e venda, mas sim amavelmente trocada por um pouco do sei sobre fazer esta e outras fotografias.
E o estar aqui desta forma impede-a de ser comida. Foi cortada e colocada neste pires, tal como a sua outra metade, e cravada com estes cravinhos de cabeça, com o único fito de aromatizar a casa. Que a combinação do aroma da laranja com o dos cravinhos é fresco e agradável. E não provem de uma lata nem consome energia eléctrica.
Quanto ao porquê de usar a luz assim: Bem, por um lado é a primeira fonte de luz que concebo – o chamado contra-luz. As demais que coloco são apenas para a controlar e às sombras que ela provoca.
Em seguida, porque permite delinear razoavelmente bem alguns volumes e texturas.
Depois porque eu mesmo sou “do contra” e usar a luz ao contrário do habitual é algo que me agrada.
Por fim, porque cria uma certa dose de mistério, se pouco atenuada, o que se adequa ao deixar a imaginação voar.
Manias!


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domingo, 28 de janeiro de 2018

sábado, 27 de janeiro de 2018

Amor e sexo



Porquê “fazer” e não “tirar” uma fotografia?
Bem, “tirar” implica algum tipo de intrusão, de agressão, de subtracção, de minorar algo ou alguém em favor da nossa fotografia.
Por seu lado, “fazer” uma fotografia implica uma relação positiva com o assunto fotografado, um acréscimo, um afecto que se demonstra.
Talvez que a melhor comparação entre o “tirar” e o “fazer” uma fotografia seja a comparação entre praticar sexo e fazer amor.

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sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

The end



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Peões e viaturas



Leio que alguns semáforos em Lisboa vão passar a dar passagem aos autocarros que estejam atrasados no seu percurso. Uma alteração no sistema automático de regulação de trânsito com a colaboração da Carris.

A ideia é boa. Permitir uma maior mobilidade aos transportes públicos, reduzindo perdas de tempo e obstruções de via.
Eu iria mais longe, aumentando a eficácia das autoridades municipais na remoção de viaturas estacionadas que impeçam ou dificultem seriamente a circulação dos transportes públicos. Sem apelo nem agravo.
Mas não basta!
Há que devolver a cidade aos cidadãos. Todos! E não apenas aos que conduzem veículos ou os que se deslocam em transportes públicos.
Os peões têm sido lembrados nas zonas de lazer mas continuam a ser menosprezados no tocante à partilha do espaço público com os veículos.
Um bom exemplo é o tempo dado nos semáforos para travessia das faixas de rodagem. São demasiados os locais onde não é possível atravessar a rua de uma só vez respeitando os sinais verde e vermelho. E é ver cidadãos, de maior ou menor idade, parados entre faixas, à espera do respectivo verde. Ou, em alternativa, a desrespeitarem os semáforos, arriscando a vida e a segurança dos demais. Porque o tempo dado para atravessar é absurdamente curto.
Um outro bom exemplo é a forma como os espaços dos peões são ocupados. Passadeiras semaforizadas ou não, passeios, locais de paragem para embarque nos transportes públicos… As autoridades policiais fazem vista grossa sobre a matéria e, mesmo quando alertadas no local sobre situações mais que evidentes, encontram forma de não intervirem.
Um destes dias, no centro da cidade e onde os peões abundam, um reboque ocupava por inteiro uma passadeira semaforizada. Tinha acabado de carregar uma moto e ambos, o da moto e o do reboque, estavam de conversa.
Não gostei, senti-me incomodado, e abordei um agente da polícia municipal que ali estava a fazer nem sei o quê. Pedi-lhe que interviesse, fazendo o reboque recuar para dar espaço à travessia em segurança.
Disse-me que tinha sido ele a autorizar aquela manobra, que seria por pouco tempo. Esse “pouco tempo” acabou por se traduzir em quase vinte minutos. Vinte minutos em que algumas dezenas de peões se viram na contingência de atravessar sem segurança. E havia espaço para, recuando, tudo se processar dentro da lei e do bom senso.
São estes pequenos episódios, tanto por parte dos decisores como dos executantes, que fazem com que a vida dos peões por cá seja uma aventura cheia de adrenalina e paciência, na disputa do espaço público aos automóveis.

Aumentem a eficácia dos transportes colectivos. Mas dêem aos cidadãos o espaço e tempo necessário para usufruírem da cidade. Aquela onde vivem.

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quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

Impossibilidades



Não há química que o defina, não há formulas que o balizem, não há poemas que o traduzam.
Há o viver, o sentir, o estar.
Tudo o resto são tentativas frustradas ou incompletas que alguns fazem.

Quem não o viveu nunca poderá falar dele, quem o viveu não tem palavras que cheguem.

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Um plágio



É verdade que sim: este post é uma espécie de plágio.
Não será uma cópia exacta, mas a ideia não é minha e fica aqui expressa com uns acréscimos da minha parte.
Dizia o post original:
“Toda a gente é fotógrafo até descobrir o modo manual”.
Não podia estar mais de acordo.
Fazer com que a câmara faça aquilo que queremos e não aquilo que consta nos seus programas e automatismos é algo que a esmagadora maioria dos utilizadores de câmaras fotográficas desconhece. Um pouco em linha com o que acontece no resto das actividades humanas nesta sociedade de consumo em que vivemos.
Procuro eu não existir assim, pese embora muitas sejam as circunstâncias em que falho nesse meu propósito.
E ainda sobre os automatismos fotográficos, recordo-me de um episódio tristemente divertido:
Numa actividade fotográfica colectiva, num estúdio, reparou alguém que eu usava uma velhérrima objectiva Tamron, 90mm f/2,5, integralmente manual.
E, para além de ter conversado comigo a esse respeito, fez questão de notar junto dos demais que eu não estava a usar o auto-focus no trabalho que estávamos a fazer.
É efectivamente coisa rara ver gente a focar manualmente. E a optar por uma dada abertura de diafragma para obter uma profundidade de campo em função daquilo que se quer mostrar e não em função de um qualquer programa de exposição.
Tal como é raro de encontrar gente a funcionar à margem das programações impostas pelos noticiários, pelas redes sociais, pelos partidos políticos, pelas modas de vestuário, pelos últimos gritos da tecnologia…

É raro de encontrar gente a pensar e agir pela sua própria cabeça!



Nota fotográfica adicional: aposto em como talvez quatro quintos dos utilizadores de câmaras fotográficas desconhece o que é e para que serve esta marca branca no corpo da câmara, no canto inferior direito da imagem.

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quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Retrato



Pediram-me o retrato e eu fiz. Vários.
A minha escolha, e a deles, foi este.
O encontro foi furtuito, que eu passeava por ali e eles estavam por ali.
Fiquei com o contacto e enviei-lhes a fotografia.

Gostava eu de os poder voltar a retratar com a mesma intensidade, passados que são quase dez anos.

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terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Turismo



A CNN recomenda Barcelona como uma cidade a evitar em 2018 devido à massificação de turismo.
Esclarecem que a cidade está cansada de tantos turistas, havendo mesmo grafitis e movimentos de cidadãos contra tais enchentes.
A capital da Catalunha está incluída numa lista de locais a evitar, tais como Machu Pichu, as Ilhas Galápagos, a Antartida, o Reino do Butão, Santorini (na Grécia) entre outros.

Acredito que, em breve, dirão o mesmo de Lisboa.

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Luz



A questão não é pacífica. E velha!
Fui ver uma exposição de fotografia. Não estava nos meus planos mas calhou passar pelo local e ter tempo. Entrei.
O local é central, bem em evidência e é habitual lá exibirem exposições.
Infelizmente, só as exposições com divulgação mediática forte têm público. De outro modo, mesmo com cartaz grande e bem visível, acontece como desta vez: um visitante solitário, eu.
As obras eram de tamanho grande, bem impressas e apelativas. Talvez que um nico difíceis de serem aceite pelo público actual, que só aceita imagens estereotipadas na forma e conteúdo.
O problema esteve, como sempre, na forma como estavam exibidas.
Dentro de molduras, com excepção de uma, e cobertas por vidro. E era este mesmo vidro, que deveria proteger as obras expostas, que impedia de as disfrutar por inteiro. Porque nele nos víamos reflectidos, sem apelo nem agravo, iluminados que estávamos pela luz da sala. E, como é hábito, os suportes bem na vertical, tal como os respectivos vidros.
Caramba! Não sou fotógrafo que se exponha, em grandes ou em discretas salas. Mas em isso acontecendo, farei questão que, ou bem que não há vidros a distorcerem contrastes e acrescentarem elementos variáveis por via dos reflexos, ou bem que os suportes estarão inclinados para baixo, fazendo com que os únicos reflexos, se alguns, sejam os do chão e/ou os dos pés dos visitantes.
Ou ainda – bem mais difícil – a iluminação da sala estará reduzida ao mínimo, concentrada apenas e só nas imagens expostas, deixando ambiente e visitantes na obscuridade.
Existe uma lei – inconstitucional porque não aprovada no Parlamento – que reza assim: “O ângulo de incidência é igual ao ângulo de reflexão”.

Aprendemos isso na escola e usamos o que aprendemos no quotidiano. Nos espelhos, nas montras, na fotografia. Não entendo porque não se aplica nas exposições fotográficas.

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segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Press



Ver jornalismo de factos usar classificações para o que relata é asqueroso.
Dizer sobre um facto “apenas” ou “ignóbil” ou “magnificente” é espelhar no relato a opinião do jornalista, é induzir quem lê ou ouve ou vê a ter uma opinião condicionada sobre os factos.
Quando se trata de crónicas ou artigos de opinião faz sentido. Agora relatos sobre factos…
Isto é tanto mais grave quando vemos agências noticiosas a vender notícias desta forma e os jornais e televisões e rádios a usarem o que compram sem “peneirarem” a diferença entre relatos factuais e opiniões.

E “Tão ladrão é o que vai à vinha como o que fica a ver”!

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Hoje



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domingo, 21 de janeiro de 2018

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“Onde é que compraste esse livro? Numa livraria?”
“Bem, eu tentei num retroseiro, mas o mais parecido que havia era o catálogo das lãs, linhas e agulhas. E já era do ano passado.”
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Oráculo radical



Vivemos num mundo de imagens. Algumas bem claras e inequívocas, como a fotografia, o cinema e o vídeo. Outras, meros códigos ou convenções, como os sinais de trânsito ou os ícones informáticos. Outras ainda de interpretação nem sempre imediata, como é o caso dos logótipos comerciais.
De uma forma ou de outra, este produzir e consumir imagem tem por objectivo a simplificação da comunicação. Dentro da linha de “uma imagem vale mil palavras!”
E a evolução e a complexidade da tecnologia também assim o impele e obriga. Quem se recorda, no caso dos computadores, das linhas de comando complexas, com palavras, letras e sintaxe rigorosas? Hoje o consumidor banal desconhece-as, usando tão só imagens e códigos visuais coloridos. Tal como noutras máquinas, os painéis de controlo são essencialmente compostos de símbolos e ícones, no lugar de palavras ou letras. Gradual mas firmemente, a imagem vai substituindo a palavra escrita.
E se isto sucede nos comunicadores formais de grande volume (industriais, media, audiovisual), sucede também com os comunicadores de pequeno porte mas a quem se destinam os primeiros: os consumidores individuais.
A tecnologia da imagem (fotografia, vídeo, infografismo) está ao alcance de quase qualquer um nas sociedades ocidentais, sendo que a sua posse e uso se torna quase que um símbolo de posição social, tal como o automóvel ou a marca de roupa que se veste.
A própria comunicação escrita convencional – a palavra – está a sofrer mutações. A técnica vai permitindo substituir as palavras e letras por símbolos gráficos – ícones de emoção, animados ou estáticos. Ou, mais simples ainda e menos tecnológico, a quantidade de letras usada na escrita vai diminuindo, com siglas, contracções e aglutinações.
De uma forma ou outra, a sociedade tecnológica e de consumo em que vivemos nos chamados “países desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento”, a palavra escrita vai definhando em favor da imagem ou do grafismo visual.
Indo ainda mais longe e fazendo futurologia radical, estou em crer que dentro de algumas gerações (quatro, cinco, seis?) a escrita como a conhecemos hoje será um atavismo, usada apenas por lentes e estudiosos. Talvez também em documentos formais ou oficiais.
Esta hipotética evolução que antevejo não é nem boa nem má: é evolução. Mudanças nos hábitos e culturas, levadas a cabo pela tecnologia e globalização, tal como os copistas monásticos e o iluministas o foram com o advento da imprensa.

Mas, no meio de tudo isto, nesta sociedade em mutação baseada na imagem e comunicação, falha um aspecto vital: a preparação dos cidadãos.
A formação académica de base, de crianças e jovens, baseia-se nas letras e palavras que ainda são a base actual da comunicação.
Mas não os prepara para saberem produzir ou consumir imagens. Prepara-os para saberem interpretar um texto escrito (por um romancista, jornalista ou um formulário) mas não para saberem ler uma fotografia, interpretarem um filme ou vídeo, descodificarem publicidade. E se não o souberem ler, interpretar, descodificar, serão estes agora jovens, futuros adultos analfabetos. E serão alvos fáceis para os que, em sabendo-o, usem desse conhecimento em favor dos seus interesses económicos, políticos, ideológicos de qualquer género.

A cultura dos códigos iconográficos e da imagem está já aí! Sem que a maioria de nós de tal se aperceba. E um povo ignorante, inculto, desatento, é o sonho de qualquer governante, magnata ou líder religioso: dócil e obediente!


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sábado, 20 de janeiro de 2018

Manias



“Olha lá! Porque diabo é que tu nunca usas o canal da direita aqui, ao sair do Metro? Fica mais perto da escada de onde vens e mais perto da escada para onde vais!”
“Sabes, aquele é um canal especial. Certo?”
“Sim, e daí?”
“É um canal mais largo, para dar passagem a quem acompanhe crianças, p’la mão ou num carrinho, ou transporte volumes, ou use cadeira de rodas ou muletas…”
“Sim! E o que é que isso tem a ver com o caso?”
“Repara que só há um canal destes para cada conjunto de escadas. Já dos outros, dos normais e mais estreitos, com a largura que nos chega, há uns quantos.”
“Certo. Mas ainda não percebi.”
“Ora sendo que estes canais possuem partes mecânicas para abrir as portas e partes electrónicas para lerem os cartões ou bilhetes. E qualquer um dos sistemas pode avariar, por muito robusto e bem construído que seja.”
“E em que é que isso te impede de o usar?”

“Acontece que quantas menos vezes for usado menor a probabilidade de avariar. E só há um canal destes. Em avariando, o incómodo para quem dele necessite é enorme. Já os poucos passos extra que dou para usar um dos outros, que são vários, em nada me incomoda. Prefiro o meu incómodo, pequeno que é, que o ver alguém numa cadeira de rodas a não conseguir sair. Manias!”

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Two ways of life



Oscar Gustave Rejlander, 1813-1875
De tanto se falar e usar hoje das e nas técnicas fotográficas, esquecemo-nos ou ignoramos o que era fazer fotografia sem o “undo” ou o “delete”. Ou mesmo o trabalhar tranquilo a uma secretária, com a bebida favorita ao lado e ouvindo a música de que gostamos.
Esta fotografia, de forte cariz moralista e de enorme influência da pintura, foi feita em 1857. Intitula-se “Two ways of life”.
Porque as condições técnicas dos suportes e de iluminação não eram o temos hoje, foi realizada com trinta fotografias diferentes, posteriormente juntas em laboratório.
Conseguem imaginar quanto tempo terá demorado a conceber, fotografar e editar esta imagem?
Por algum motivo algumas impressões desta fotografia constam dos acervos de vários museus.

Da próxima vez que pegarem numa câmara fotográfica, mesmo antes de premirem o botão “power”, parem para pensar um nico.

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sexta-feira, 19 de janeiro de 2018



“A Câmara Clara”, por Roland Barhes
“…
Pode acontecer que eu seja olhado sem o saber e disso não posso ainda falar, uma vez que decidi tomar como guia a consciência da minha inquietação. Mas, muitas vezes (demasiadas, quanto a mim), fui fotografado com conhecimento. Ora, a partir do momento em que me sinto olhado pela objectiva, tudo muda: preparo-me para a pose, fabrico instantaneamente um outro corpo, metamorfoseio-me antecipadamente em imagem. Esta transformação é activa: sinto que a Fotografia cria o meu corpo ou o mortifica a seu bel-prazer (apólogo desse poder mortífero: alguns communards pagaram com a vida a sua condescendência em posar nas barricadas; depois de vencidos, foram reconhecidos pelos polícias de Thiers e quase todos fuzilados).
Posando diante da objectiva (quero dizer, sabendo que estou a posar, mesmo fugidiamente), não arrisco tanto (pelo menos por agora). Sem dúvida é metaforicamente que extraio a minha existência de fotógrafo. Mas esta dependência, por muito imaginária que seja (e do mais puro Imaginário), vivo-a na angústia de uma filiação incerta: uma imagem – a minha imagem – vai nascer; irei ser parido como um “tipo fixe”? Se eu pudesse “sair” no papel como numa tela clássica, com um ar nobre, pensativo, inteligente, etc.! Em suma, se eu pudesse ser “pintado” (por Ticiano) ou “desenhado” (por Clouet)! Mas como aquilo que eu gostaria que fosse captado é uma textura moral fina, e não uma mímica, e como a Fotografia é pouco subtil, salvo em muito bons retratistas, eu não sei como agir do interior sobre o meu aspecto. Decido “deixar pairar” nos meus lábios e nos meus olhos um leve sorriso que pretendia “indefinível”, no qual daria a ler, juntamente com as qualidades da minha natureza, a consciência divertida que tenho de todo o cerimonial fotográfico. Presto-me ao jogo social, poso, sei isso muito bem, quero que também o saibam, mas esta mensagem suplementar não deve alterar em nada (no fundo, a quadratura do círculo) a essência preciosa da minha individualidade, aquilo que sou, para além da efígie. Gostaria, afinal, que a minha imagem móvel, atormentada entre mil fotos mutáveis consoante as situações, a idade, coincidisse sempre com o meu “eu” (profundo, como se sabe); mas é o contrário que é preciso dizer: sou “eu” que nunca coincide com a minha imagem, porque é a imagem que é pesada, imóvel, obstinada (aquilo em que a sociedade se apoia), e sou “eu” que sou leve, dividido, disperso e que, como um ludião, não fico quieto agitando-me no meu bocal. Ah, se ao menos a fotografia pudesse dar-me um corpo neutro, anatómico, um corpo que não significa nada! Infelizmente, sou condenado pela Fotografia, que julga fazer bem ter sempre um semblante: o meu corpo não encontra nunca o seu grau zero, ninguém lho dá (talvez só a minha mãe? Porque não é a indiferença que retira o peso da imagem – nada como uma fotografia “objectiva”, do género Photomaton, para fazer de nós um assassino, procurado pela polícia – é o amor, o amor extremo).
Ver-se a si mesmo (sem ser num espelho), à escala da história, é um acto recente. O retrato, pintado, desenhado ou miniaturizado foi, até à difusão da Fotografia, um bem restrito, destinado, aliás, a marcar um estatuto social e financeiro. E, de qualquer modo, um retrato pintado, por muito semelhante que seja, (é o que falta provar), não é uma fotografia. É curioso que não se tenha pensado na perturbação (de civilização) que este acto novo trás. Gostaria que houvesse uma História dos Olhares. Porque a Fotografia é o aparecimento de eu próprio como outro, uma dissociação artificiosa da consciência da identidade. E ainda mais curioso: foi antes da Fotografia que os Homens falaram da visão do duplo. Aproxima-se a heautoscopia de uma alucinose; durante séculos, ela foi um tema mítico. Mas se hoje é como se recalcássemos a loucura da Fotografia: ela só recorda a sua herança mítica por esse leve mal-estar que sinto quando “me” vejo num papel.

…”

Imagem: me by me

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Carne para canhão



Os grandes confrontos entre exércitos faziam-se com linhas de homens que avançavam sobre o oponente, disparando as suas armas.
Acontece que estas eram de pólvora negra, de carregar pela boca, de um único tiro. Depois de disparadas, haveria que deitar pólvora pela abertura frontal do cano, acrescentar o projéctil, calcar tudo com uma vareta e garantir a existência do sistema de ignição na câmara: inicialmente por pederneira, mais tarde por fulminante.
Disparava a primeira linha, avançava a segunda para disparar enquanto a primeira iniciava o remuniciamento, avançava e dispara a terceira enquanto a primeira terminava o carregar da arma, avançava a primeira…
Quando a distância entre as linhas adversárias era muito pequena, passava-se à luta corpo a corpo, de espada ou baioneta, esta colocada na ponta do cano da espingarda ou mosquete.
Mas se este avanço era táctico, para tomar uma posição inimiga, estes estariam equipados com canhões. Que eram municiados também pela boca da arma. Mas que disparavam sobre as linhas inimigas que avançavam, dizimando-as as mais das vezes.
Neste tipo de confronto bélico, a primeira vaga de assalto tinha uma taxa de sobrevivência diminuta, menos de dez por cento, ao que sei.
E era a esta vaga, conjunto de três linhas, que se dava o nome de “carne para canhão”. Que se sabia ser dizimada pelos canhões inimigos e que era o preço para que as linhas seguintes chegassem ao corpo a corpo.

Hoje a pólvora negra é usada apenas em espectáculos pirotécnicos. As armas de carregar pela boca (mosquetes, revolveres de acção simples ou canhões) já não são mais que peças de museu. E a carne para canhão já não se espalha pelos campos de batalha da mesma forma.
Mas continua a existir, a carne para canhão.
Às ordens dos generais dos mercados e dos marechais da política, a carne para canhão somos nós, que vamos tombando nos campos de batalha económicos, vítimas das ofensivas bancárias e geopolíticas.
E com a ilusão da “doce morte do herói” continuamos a marchar armados de notas, moedas, contratos e consumos.
Os generais de hoje já não têm estrelas nos ombros, não vestem de caqui nem possuem cavalos brancos.
Mas nós continuamos a alimentas essas guerras, caindo na frente de combate às ordens desses que não saem dos gabinetes estratégicos.
Continuamos a ser a sua “carne para canhão”.
Até que um dia espetemos no chão as baionetas, deitemos fora as munições e enterremos as carteiras com notas e cartões.



Imagem: “Harvest of death”, de Timothy H. O’Sullivan, 1863, Gettysburg, USA
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Sensações



Parece que o sentimento de insegurança diminuiu na população portuguesa.
Dados comparativos entre o ano 2012 e o ano 2017.
Faz sentido!
Pedro Passos Coelho tinha subido ao poder no ano de 2011 e saiu em 2015.



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quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Um brinde especial



Aprendi, já nem sei onde nem quando, que a civilização Romana se manteve em tempo e área porque aceitava os usos e costumes dos povos conquistados. Incluindo a religião.
Aliás, parece que adoptava para si os deuses que encontrava entre esses povos, fazendo-os entrar no seu universo mitológico.
E, ao que julgo saber, o seu medo de ofender os deuses era tal que terá construído um templo em honra dos deuses desconhecidos, onde iriam fazer oferendas de tempos a tempos. Só mesmo para garantir que não escapava nenhum.
Por mim, agnóstico que sou, ergo a minha taça em honra de todos os deuses, conhecidos ou não, agradecendo o que me têm proporcionado nos últimos tempos.

E àquele que, um dia, me deu um pontapé fazendo-me sair de casa no lugar de ficar na ronha essa tarde, um agradecimento especial.

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Compra de sapatos



Eu sei que sou um chato! Se em alguns aspectos sou condescendente até à estupidez, noutros sou exigente até à última pinguinha!
Em geral, a minha indumentária cabe na primeira categoria. Visto o que visto e que tenho mais à mão, sem me preocupar nada se esta peça, com esta cor, joga ou não com aquela outra. Desde que me sinta confortável…
Mas se na minha indumentária haverá aspecto em que sou exigente é no calçado. Não que o seu aspecto seja importante, mas no seu conforto. Afinal é em cima deles, dos pés e dos sapatos, que estou e muitas horas por dia. Calçado desconfortável é algo que recuso, liminarmente. Devo mesmo dizer que tenho aqui um par que, porque o comprei como confortável e acabei por constatar o contrário, estão ali sem uso.
Pois está na altura de comprar sapatos. Não é pressa, que quando os sinto bem nos pés até me custa trocá-los, mas antes que tenha que ser uma decisão rápida, vou olhando para as montras. E se vir um par que aparente o conforto de que gosto trato de saber o preço e, só depois disso, pondero a eventualidade de os comprar. Experimentando-os muito bem, claro.
Foi o caso um destes dias: vi um par que parecia mesmo ter sido feito para os meus pés. E, estando dentro de valores comportáveis, entrei e pedi para os ver e calçar.
Saiu-me na rifa uma menina que, toda simpática e bonitinha de se ver, tratou de ir lá dentro trazer o tamanho que me servia: o 42. Regressa, minutos depois, com um par reluzente na mão, dizendo-me:
“O 42 já não tenho. Mas trago-lhe aqui o 44, pode ser que lhe sirvam.”
Fiquei a olhar para ela, incrédulo. Foi daquelas situações, raras, em que me faltou de imediato a resposta adequada.
Ainda pensei em perguntar-lhe se ela estaria a fazer alguma comparação entre o tamanho que ela gostaria dos meus pés com qualquer outra parte da minha anatomia. Ou ainda sugerir-lhe que ela poderia dar-me uma eficiente e agradável massagem nos pés até que eles crescessem e se adaptassem àquela medida. Mas qualquer uma destas respostas seria, para além de inconveniente, poucos conforme com o meu próprio comportamento e linguajar.
Acabei por ficar com cara de parvo e limitar-se a responder-lhe que muito obrigado, mas que não costumo usar os dois pés num sapato só. E saí, lamentando de mim para mim que era pena que atrás daquele palmito de cara bonito de ver existissem apenas dois neurónios, e que ambos estivessem de férias hoje.
Vou acabar por continuar a usar por uns tempos estes dois, já velhotes, mas que se me fazem aos pés como se pele se tratasse e em que não penso quando os uso. E que, garantidamente, não deixarei abandonados numa qualquer rua do bairro.



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terça-feira, 16 de janeiro de 2018

A chave



As coisas são o que são e há sempre sobreviventes!
Eis que, ao revolver coisas velhas, numa tentativa de decidir o que é útil e o que não o é, tropeço nesta chave de fendas.
Pequenina como se vê, daquelas que quase se perdem nos bolsos ou bolsas, sobreviveu quase quarenta anos na minha posse.
Foi-me entregue aquando da transição de preto e branco para cor em televisão e servia, tal como outras (creio ter ainda uma chave allen que constava do mesmo conjunto), para afinar e calibrar as primeiras câmaras Bosch a cores em Portugal.

O passado tem destas coisas. E não sei quantas ferramentas, fabricadas e usadas nos tempos actuais, serão capazes de sobreviver tantos anos.

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domingo, 14 de janeiro de 2018

Alicerces



É sempre legítimo (e recomendável) que nos questionemos sobre a relativização das importâncias.
Enquanto isto começa a ganhar forma, numa organização que se pretende por assuntos mas que acaba por redundar em dimensões, olho para as lombadas.
E procuro referências. As minhas referências. Onde bebi e bebo, os tijolos que alicerçam o que sou, aqueles que me deram alento quando perdido e que, somados, criaram algo de diferente.
E tropeço, sem nexo ou sistema, em alguns nomes:
Popper, Weston, Arnheim, Medeiros, Sontag, Barlili, Feinninger, Berger, Kant, Revert, Heinlein, Foucault, Sena, Adams, Fontcuberta, Borges, Mah, Batchen… Que todos os outros me desculpem pela ausência nesta lista.
O cinzel, a pena, o carvão, a objectiva, podem sempre ser substituídos, mesmo que lhes tenhamos afectos profundos.
Agora os Homens e o seu pensamento…
Sei que para alguns isto será pouco importante. Que mais o saber, importa o fazer, mesmo que sem referências ou fontes.

Mas não sei o que seria hoje sem tudo o que fui e aprendi!

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sábado, 13 de janeiro de 2018

À espera


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A sopa



Quando eu era pequeno não gostava de sopa. Mas não gostava mesmo, à imagem e semelhança de muitas outras crianças de aquém e alem mar.
Fazia fita, argumentava, amuava… E só as fortes ameaças (algumas concretizadas) ou brilhantes engodos me faziam deglutir aquela coisa que não era nem liquida nem sólida, que não se bebia nem mastigava. Ainda hoje é um pouco assim.

Aquele dia não foi diferente dos outros. Não queria mesmo comer a sopa! Mas uma ideia brilhante assolou a mente de quem estava comigo e propôs-me um acordo: eu comeria apenas metade da sopa. A metade do lado direito. Com a colher, traçou um risco a meio do prato da sopa e do seu conteúdo e mostrou-me qual a minha metade e qual a metade a deixar ficar no prato.
Aliciado com esta indulgência súbita, ataquei o prato de sopa. Com todas as cautelas, a colher mergulhava exclusivamente na minha metade, deixando virgem a outra. E rapidamente, não fosse mudarem de ideias.
Claro está que, quando rapei a última gota da minha metade, a outra fora comida também!
Olhei desconsolado para aquele prato vazio, percebendo que a tinha comido por inteiro. E fiquei furioso!
Furioso por ter sido enganado, por ter acreditado em quem deveria acreditar e que me havia enganado!
Furioso por ter aceite um negócio insuspeito e ter sido levado a fazer o que não queria!Fiquei tão furioso que ainda hoje, passados que são quase 50 anos, me recordo do episódio, das circunstâncias, dos intervenientes, das sensações!

Ficou-me de lição! Talvez tenha sido nesse dia que acordei para a hipocrisia e mentira, para os engodos e aldrabices.
Hoje continuo a desconfiar das ofertas muito generosas. Dos bancos, dos vendedores, dos governos, dos empregadores, por vezes até dos anónimos.
Perante as promessas de “apenas metade” lembro-me sempre das outras metades que haveria que engolir a contra-gosto se nelas acreditasse.

Lá diz o povo e com razão: “Galinha gorda por pouco dinheiro, choca vai ela!”


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sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Crivos



No mesmo dia leio duas notícias que entristecem ou assustam.
Num jornal fala-se da entrega do Teatro Maria Matos, em Lisboa, a gestão provada. Noutro fala-se do desagrado da vereadora da cultura de Santarém quanto a espectáculos no Teatro Sá da Bandeira no tocante a vestuário e linguagem e de como isso poderá estar na base do afastamento do director do local.
Isto recorda-me um episódio já com uns anos valentes: a proprietária de uma conhecida e bem antiga sala de espectáculos que a tinha alugada a uma companhia de teatro proibiu uma representação no dia do ensaio geral porque lhe desagradou aquilo a que assistiu.
Disse um pintor e pensador catalão, na segunda metade do século XX, que a arte deve agitar os pensamentos e provocar o desassossego no público. Levando-o a pensar e questionar.
Quando não enquista e passa a academismo conservador e entediante.
Infelizmente, por cá, o teatro ainda é objecto de crivos de antanho por parte dos poderes, sejam eles políticos ou empresariais. O politicamente incorrecto ou o socialmente discutível são atirados para recantos obscuros, quando não liminarmente erradicados.

O mesmo se aplica a outras formas de expressão, plástica ou não.

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quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Termos

Alguém informe os jornalistas da nossa praça que “tanque” é para guardar gasolina ou água ou para lavar a roupa.
Em termos militares são “carros blindados” ou “carros de combate” ou “carros de assalto”.
Vão lá dizer tanque para um quartel de cavalaria que vão ver a “corrida em osso” que levam.
Com sorte, não ficam a varrer a parada!
E, já agora, confundir pistola com revolver também não é lá grande espingarda.


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Quando a ética se sobrepõe à estética



É verdade que sim! Gosto de fotografar flores e folhas.
Gosto de ver a suavidade das suas texturas, gosto de registar os seus contornos trabalhados, gosto de sentir como a luz as atravessa, gosto de constatar como as suas nervuras se espraiam e desenvolvem.
Agora é garantido que nunca as fotografo em ambientes controlados! Aquela coisa de termos a luz como a queremos, de sabermos que o vento não as tira de foco e de podermos usar o tempo de exposição que entendemos sem que haja imagens tremidas… esse tipo de fotografias não faço!
E o motivo é razoavelmente simples: não me entendo dono do universo para poder decidir quais os seres vivos que devem morrer para meu deleite!
Matar um animal – mamífero ou insecto – ou uma planta – flor ou folhas – apenas porque me apetece fazer uma fotografia, numa espécie de orgasmo visual, isso é algo que me recuso fazer.
Se as condições o permitirem – luz, terreno, vento, perspectiva, técnicas – lá tentarei dar um arzinho da minha graça e trazer para casa um ícone daquilo de que gostei. E, se tiver arte e engenho, será quase tão bonito quanto o animal ou planta vivo de que gostei.

A alma também se alimenta. E, ao contrário do estômago, é de coisas vivas e belas. A morte pouco ou nada tem de belo, mesmo a de uma folha, se for eu a provocá-la!

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quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O tiro no pé



Vejo que está meio mundo incomodado com o facto de ter sido dito que a actual Procuradora Geral da República poder não vir a ser reconduzida do cargo em terminando o actual mandato.
E, entre outros argumentos, dizem que esta declaração a dez meses do fim do cargo a poderá afectar psicologicamente, pondo em causa o seu desempenho.
Não concordo nem discordo com a declaração. Mas certo é que os que a contestam estão a duvidar seriamente da qualidade do seu profissionalismo.
É que se alguém, em sabendo que termina o seu “contrato”, passar a desempenhar mal as suas funções até esse momento não merece sequer ter assumido funções.
Um profissional – ou uma pessoa íntegra – cumpre o seu papel no cargo que exerce até ao fim. Mesmo que o cargo seja de origem política e a nomeação dependa também disso.
A menos que quem assim argumenta entenda que todos os que exercem cargos políticos eleitos ou nomeados a prazo façam mal o seu papel em aproximando-se eleições. Governo, parlamento, autarquias, presidência, juízes, directores gerais…
Já nem quero falar em todos os milhares de cidadãos que possuem contractos de trabalho a termo fixo ou incerto.
Indo mais longe ainda, deduz-se dessa posição de crítica que quem a faz poderia ter a mesma atitude: em sabendo que o seu cargo está a prazo e com o aproximar do seu fim anunciado, passarem a exercer mal as respectivas funções.

De tanto quererem abater os outros acabam por dar um valente tiro no pé.

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terça-feira, 9 de janeiro de 2018

O tijolo



O velho tijolo transportava-se em cima do ombro, usava uma catrefa de pilhas e tinha potência suficiente para chatear o bichinho do ouvido de qualquer um num raio de 20 metros, bem medidos.
O tijolo contemporâneo transporta-se pendurado do ombro ou na curva do braço, usa duas pilhas AAA, recarregáveis e ainda permite levar o “nécessair”, o telemóvel, o tabaco, as chaves e o resto da cangalhada. E a dois ou três metros, já ninguém dá por ele.

E, já me esquecia: este é analfabeto, não lê cassetes.

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segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Ilegal?



A coisa é assim:
Pagamentos relacionamentos com o estado? Via transferência bancária.
Devoluções por parte do estado? Via transferência bancária.
Receber salário? Via transferência bancária.
Contrato de prestação de serviços básicos? Pagamento via transferência bancária.
Utilização de auto-estradas ou ex-scut? Pagamento via transferência bancária.
Prémios de jogo da Santa Casa da Misericórdia? Pagamento via transferência bancária.
Comprar casa ou carro? Pagamento via transferência bancária.
Espera lá!
Onde está escrito que para me relacionar com uma qualquer entidade, oficial ou particular, tenho que ter um contrato com um banco?
Esses tais bancos cujas dificuldades estamos a pagar através dos nossos impostos? E de cujos lucros não beneficiamos?

Será que o dinheiro, notas ou moedas, é ilegal?



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