quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

O biqueiro



Ele olhou pelo espelho retrovisor e viu-as: a uns 60 metros, corriam tanto quanto o meio século de cada uma, mais os sacos que carregavam, permitiam.
O meu braço, esticado e de mão aberta e levantada, irrompia pelo espaço da porta, ainda aberta.
Cinquenta metros. Ele olhou para mim e fez um esgar. Estranho esgar.
Movimentou o seu braço e premiu um botão.
Quarenta e cinco metros.
O silvo do ar comprimido do fechar das portas fez-se ouvir. E ele a olhar para mim.
Quarenta metros.
Retirei apressadamente o braço, antes que ficasse entalado.
Trinta metros.
Ouviu-se o destravar do autocarro e a marcha iniciou-se. Com calma.
Vinte metros.
O biqueiro que dei na chapa da viatura ecoou por toda ela como um sino rachado.
Dez metros.
A viatura imobilizou-se ao mesmo tempo que a porta se abria.
Afastei-me no meu caminho para o trabalho, mas ainda ouvi qualquer coisa que disse, acabada em ão e em alho.
Elas embarcaram, ofegantes mas sorridentes.

Uma delas ainda teve ânimo para proferir, por entre o arfar, um obrigado.

By me 

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