domingo, 8 de outubro de 2017

Acordem!



Um dia, estava eu entretido com umas fotografias em casa, quando me tocam à campainha.
Fui ver quem era naturalmente, e não muito bem disposto, que não gosto lá muito que me interrompam quando estou nestas coisas.
O casal que me aguardava no patamar da escada patenteou bem o seu espanto. Que se não bastassem as barbas e o cabelo solto, de dentro de casa vinha o clarão de talvez 2.000 watt de potencia de luz.
Queriam eles convencer-me a comprar-lhes um seguro de saúde. Tiveram azar! Que não tenho eu nenhum seguro de saúde, que não quero ter nenhum seguro de saúde e que não recomendo ninguém a ter nenhum seguro de saúde.
Tenho por certo que o Serviço Nacional de Saúde deve ser eficaz, rápido e para todos, seja qual for a sua condição económica. E todos contribuírem para ele, na proporção dos seus rendimentos e através dos impostos que pagam.
A existência de seguros privados de saúde é mais um factor de clivagem social, em que os que não têm possibilidade de a eles acederem ficam com as sobras da saúde em Portugal. Isto porque quantos mais forem os que a isso aderirem, menos são os que fazem com que o sistema público funcione, quer através da sua influência na sociedade, exigindo-o, quer fazendo “sangrias” nos profissionais e demais recursos.
Em sendo banal haver seguros privados de saúde, privam-se os que os não os têm de aceder aos correctos cuidados de saúde.
E eu, que até poderia com algum esforço ser utente de um desses seguros, faço questão de o não ser, recorrendo ao público e exigindo que este seja tão bom como os melhores.
Não há cidadãos de primeira e de segunda e todos, sem excepção, têm direito à saúde. Tal como ao pão, à habitação, à educação… Recuso-me a colaborar em sistemas diferenciadores de classe!
Disse-lho. Ouviram, com o nível de espanto a aumentar nas suas caras e com algumas tentativas, falhadas, de me convencerem do contrário.
O golpe de misericórdia que receberam aconteceu quando lhes disse que o que eles faziam para ganhar a vida (vender seguros de saúde) não lhes dava rendimentos suficientes para a eles acederem. E que quantos mais vendessem menos possibilidades teriam de ter um bom sistema público de saúde.
Não sei se a minha porta, neste prédio de muitos apartamentos, terá sido a última em que tocaram no meu andar. Mas o certo é que se afastaram para o elevador, deixando de parte as restantes visíveis.

Aconteceu isto há uns anitos. E continuo a acreditar no mesmo. Com a frustração de ver, a cada dia que passa, as privatizações e delapidações do que é público a acontecerem. Cada vez mais rápido e cada vez mais fundo.
Por este ritmo, em breve terá acesso a coisas básicas apenas quem tiver recursos para as pagar. Aqueles que já têm dificuldade em manterem-se vivos ficarão excluídos, classificados de “resíduos humanos” e estando apenas à espera que passe o camião do lixo ou a carreta, para os levar.

Não sei se é isto que os estas linhas lêem querem.


Mas p’la certa que não é o que eu quero!

By me

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