quarta-feira, 14 de junho de 2017

Não gosto



Não, não gosto de dinheiro!
Começando pelo simples facto de, ele mesmo, ser coisa alguma. Não é mais que um símbolo, representando os valores que atribuímos ao que temos ou produzimos. O dinheiro é uma ilusão! Uma mera equivalência!
Segue-se que cada um de nós não possui o dinheiro que tem na carteira ou bolso. É propriedade do banco emissor e qualquer tentativa de danificar ou destruir notas ou moedas é punível por lei. O dinheiro que supostamente ganhamos não nos pertence!
Claro que também há que considerar que o dinheiro que não possuímos e que é uma ilusão está mal distribuído. Pessoas há que, por o terem em abundância, comem para além da saciedade, deitando fora os restos e sobras, enquanto que outros, à míngua de o terem, comem aquém do básico, e dos detritos dos outros. Não se dispor de dinheiro implica fome e sofrimento.
Acrescente-se que tudo, ou quase, se faz por dinheiro ou com o fito de o obter. Actos gratuitos, sem terem por objectivo a obtenção de dinheiro, aquilo que não nos pertence, que é uma ilusão e que provoca sofrimento, é olhado com desconfiança, por vezes mesmo com medo. O bastante para ser, frequentemente recusado, por insólito, porque fora da normalidade, vá-se lá saber o que é “normalidade”! O dinheiro, origem de sofrimento, ilusão e fugidio, é também um atestado de credibilidade.
Curiosamente, veja-se a crise mundial recente e constate-se como tudo o que acima dito corresponde a ela!

Pois tenho para mim que o dinheiro, não sendo “O” mal da sociedade, é certamente um deles e que estaríamos bem melhor se ele não existisse ou mesmo se nunca tivesse sido inventado.
Cada um deveria exercer a sua actividade, na medida dos seus saberes e capacidades, e ter, sem ser em troca mas naturalmente, o resultado das actividades dos restantes elementos da sociedade. Sem dinheiro pelo caminho, que significasse coisa alguma, sem provocar sofrimento e sem testemunhos de credibilidade. Cada um vale o que vale por si mesmo e não devido a uma qualquer certificado volátil.
É assim que penso e que procuro agir, na medida em que a sociedade em que estou inserido o permite. E se tenho que ter um trabalho que me permita comer, vestir, abrigar e alimentar, em parte, o espírito, procuro que parte dos meus actos sejam coerentes com os meus ideais. É o caso da fotografia!
Faço questão de com ela não fazer negócio, de dela não obter dinheiro em troca. Fotografo se e quando quero e, no caso de mo pedirem, não cobro nem apresento contas. Na melhor das hipóteses, espero e sugiro que quem fica com as imagens que produzo tenha comportamentos equivalentes, usando dos seus saberes e competências em beneficio da comunidade e sem esperar obter nada em troca.
Conseguir que tal suceda será o meu lucro, real e palpável, verdadeiro certificado das qualidades de quem o faz, provocando prazer no lugar de sofrimento. Com a “vantagem” de não ser colectável em impostos!
Recentemente pediram-me para fotografar uma família que, indo a um evento de circunstância, gostaria de ficar com recordações do momento e dos trajes usados. Claro que o fiz, para prazer mútuo. O problema virá, em breve, na aceitação por parte deles que não há dinheiro envolvido e que das fotografias já entregues gostaria apenas de vir a saber que algo de equivalente da parte deles foi feito a terceiros.

É que, sabem, eu não gosto mesmo de dinheiro!

By me

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