sexta-feira, 30 de junho de 2017

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Há normas, regras, técnicas, que temos por certas. Perfeitas.
Sabemo-lo dos livros, sabemo-lo dos trabalhos que vemos. Sabemo-lo dos trabalhos que fazemos.
E quando nos confrontamos com o seu quebrar ou distorcer, arrepiamo-nos. Porque sai das regras, porque nos incomoda na nossa procura do equilíbrio, do perfeito.
Uma dessas regras, e falando de cinema ou vídeo, é o racord.
Para quem não sabe, racord pode ser definido como continuidade, como coerência na sucessão do que é mostrado.
Pode ser na lógica da história, pode ser na lógica das imagens.
Um exemplo clássico será o vermos alguém com um objecto na mão direita e, na imagem seguinte, tê-lo na mão esquerda. Sem que nada se quebre na sucessão do tempo nem nos ter sido mostrado a mudança. E quem diz um objecto na mão, diz a direcção do caminhar ou olhar, uma peça de roupa, um penteado, a origem da luz…
A falha de racord é algo que os profissionais evitam, como o diabo a cruz.
Claro está que não há regras que não possam ser quebradas ou distorcidas. Sabendo-o e fazendo-o de propósito. Com o propósito explícito de provocar algum tipo de reacção ou emoção em quem o vê. Os mestres, os grandes mestres, usam-no. Para alterar ou condicionar a atitude passiva do espectador. Ou mostrar subtis alterações nas personagens.
Apercebermo-nos disso é um deleite.

O problema põe-se que esta quebra de regras não é segredo. Apenas implica mestria no seu uso, ou o resultado estará apenas um degrau assim de porcaria total.
Os não-mestres tentam imitá-los. As mais das vezes sem sucesso. No cinema, na televisão, nos vídeos on-line, na informação.
Afirmam que é uma técnica superior, que é admissível, que faz parte da nova linguagem do audiovisual.
Infelizmente, estes argumentos apenas servem para encobrir ou disfarçar a sua incapacidade de lidar com o racord e a sua falha. E dizem ser “arte” aquilo que é, na verdade, incompetência.
Ver um raro momento de arte é um prazer.
Ver tanta incompetência disfarçada é um tormento.


By me

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