quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Uma questão de identidade



Foi há trinta e tal anos que, fruto de um conflito politico-laboral, passei a ser conhecido por JC Duarte, em vez de “primeiro-nome” Duarte como desde a escola primária e como quase toda a gente.
E se na altura a coisa foi complicada, chegando a implicar o formalizar junto da entidade patronal este “nome artístico” ou “nome de guerra” ou “pseudónimo”, acabei por o assumir como nome próprio e profissional em tudo quanto é lado ao constatar que já havia alguém com o meu primeiro e último nome na campo da fotografia em Portugal.
Ficou o JC Duarte, p’ro melhor e p’ro pior, aceite em tudo quanto é lado excepto no arquivo de identificação e nos bancos, que não gostam desta coisa de apenas consoantes sem vogais.
Aliás, a maior parte das pessoas não gosta disto, deitando-se a adivinhar o que significarão o J e o C, não lhes passando pela cabeça que, ao fim de tantos anos não são um J e um C, duas letras, mas sim um JC, um vocábulo, tal como “Pedro” é um nome composto por cinco letras e não cinco iniciais.
Não será muito comum que alguém tenha por nome próprio um pequeno conjunto de duas letras. Sem vogais, ainda por cima.
Mas também não será muito comum que seja o próprio a escolher o seu nome, mesmo que sem formalidades e documentos oficiais.
A esmagadora maioria das pessoas vive com o nome que pais ou padrinhos lhes impuseram, sem serem ouvidos ou achados sobre os seus gostos ou preferências. No meu caso, mesmo que começando por ser casual, acabei por mandar às urtigas essa tirania e decidi como quero ser tratado: JC.
Apenas um círculo de gente muito restrito, muito restrito mesmo, me trata pelo primeiro nome que consta do meu registo de nascimento.
E sou tão rigoroso nessa exclusividade que já interpelei gente com altos cargos, perguntando-lhes se lhes tinha dado confiança suficiente para me tratarem de outra forma que não fosse como JC ou como Duarte. Abanaram, tentaram responder, mas ficaram-se pelo silêncio.
Creio que toda a gente, mais cedo ou mais tarde, uma ou mais vezes, se terá questionado com “Quem sou eu?”.
Cedo na minha idade adulta decidi que nas relações interpessoais sou o JC.

Quanto ao resto, ainda estou à procura de respostas.

By me

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