segunda-feira, 13 de junho de 2016

Exercícios



Naquele tempo não havia net, fóruns, redes sociais.
Havia “clubes”, revistas, bibliotecas, as noitadas em casa deste ou daquele, as discussões em tornos de provas de contacto, as longas conversas com os vendedores ou lojistas, as lojas que eram pontos de encontro…
E havia aqueles desafios que fazíamos uns aos outros, sem prémios ou menções honrosas, mas tão só com o objectivo de nos incentivarmos a irmos mais longe no nosso próprio caminho.
Um desses desafios, repetido amiúde, era com tempo e espaço limitado.
Escolhíamos um lugar (rua, praça, largo, vila operária, o que fosse) definíamos um prazo (uma hora, duas, meio dia) e uma quantidade (um rolo de 36, dois, três, nunca mais que a fotografia era cara) e íamos fotografar. Dois ou três de nós, não mais para que não nos atrapalhássemos.
No final da parte prática, juntávamo-nos em torno de uns canecos e conversávamos sobre o que havíamos feito e sentido, face ao local, à luz, às gentes, às cores (mesmo que em preto e branco), às limitações técnicas…
Uns dias depois, tornávamo-nos a reunir, desta feita com as fotografias prontas.
Todas eram mostradas, as escolhidas e as preteridas. As primeiras impressas em formato “que se visse”, as restantes em provas de contacto ou 9x12.
E conversávamos sobre o trabalho: as escolhas e os motivos, as correcções ao enquadramento original, as escolhas de perspectiva em função das ópticas, dos assuntos, das luzes, da qualidade da impressão (se fosse nossa), do que elas, as fotografias, nos diziam agora, passados dias…
O pensar fotografia era um trabalho interior e colectivo, sem exibições e com o respeito às opiniões de cada um.

Aprendi muito, nestas brincadeiras.
Aprendi a comparar a minha forma de ver com a de outros. Aprendi a comparar a minha forma de sentir com a de outros. Aprendi a fazer chegar a outros a minha forma de ver e sentir, afinando as minhas técnicas com a eficácia da comunicação. Aprendi que não importa idade ou experiência, há sempre o que contar e o que ouvir. Aprendi que a única competição válida é a interior. Aprendi… Aprendi muito com estas brincadeiras.

Tantas vezes sinto falta, agora no tempo dos digitais e das auto-estradas da comunicação, destas brincadeiras tão pueris mas também tão sérias.

By me 

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