quinta-feira, 19 de maio de 2016

Fachadas



Para os que gostam destas coisas, aqui fica um exemplo.
Um dos exemplos dos tempos em que os arquitectos se preocupavam (ou podiam preocupar) com a satisfação de quem iria usar os seus prédios de habitação. E não apenas com a satisfação do dono da obra, para quem tempo e dinheiro eram (e são) as principais preocupações.
Neste caso, repare-se como cada um destes prédios varia na vertical, com mudanças no desenho de piso para piso.
As janelas estão todas sobrepostas, denunciando que a gestão do espaço interior é idêntica em todos os pisos.
O que é diferente são as pequenas variações existentes em redor das janelas, em cantaria, dando um carácter de único a cada piso ou andar.
Esta necessidade de não uniformizar as fachadas, que existiu até meados do séc. XX, não é apenas uma identificação de classe social (por ser mais difícil aceder aos pisos superiores por não possuírem elevador).
Trata-se, também, de uma questão de identificação territorial vertical. Estas pequenas diferenças permitem, sem esforço de contagem e num relance, identificar qual ou quais as janelas e respectiva envolvente que fazem parte do território de cada um.
“Eu moro logo abaixo dos espigões de pedra salientes” ou”As minhas janelas são as encimadas por um pequeno telhado”, são afirmações quanto baste para se saber quais são, se andar a contar de baixo para cima e, com isso, identificar grupo social.
A partir dos anos cinquenta do séc. passado, e com mais notoriedade nos últimos trinta ou quarenta a anos, os edifícios de habitação passaram a primar por uniformidade de fachada, sem que algo diferenciasse um piso do outro. Conceitos sociais, custos e prazos de construção, migração massiva para as cidades… tudo isto e talvez uma questão de moda fez desaparecer a identificação do “meu ninho”.
Surgiram, então, variadas formas, agora personalizadas, de o fazer. Desde os autocolantes nas vidraças às floreiras à janela, passando por cores mais garridas na parte exterior dos cortinados e reposteiros, por vezes mesmo plástico colado nas vidraças a imitar vitrais, tudo servia e serve para definir território. Bem notório nos edifícios possuidores de varandas que passaram a estar “fechadas” e denominadas de “marquise”, onde a forma como os vidros se dispõem, bem como o que é exibido no seu interior ajuda a essa demarcação territorial.

Por mim, e pese embora ser muitíssimo importante que cada um possa optar pelas marcas que entender – cor, formato, impacto visual – prefiro pensar que alguém se deu ao trabalho de organizar o espaço, dividindo-o com algum tipo de lógica ou harmonia, mantendo a unidade do todo sem perder a individualidade das partes.


Mas isto sou eu, que gosto de olhar o que me cerca, mesmo em cima.

By me 

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