domingo, 29 de maio de 2016

Do sobre a utilização da imagem fotográfica – parte 2



A imagem que aqui se vê foi feita em 1897.
Trata-se da fotografia de António Conselheiro, um líder carismático e quase messiânico que liderou uma comunidade no nordeste brasileiro. Comunidade composta por “sem terra” como hoje chamamos, e que baseava a sua organização na efectiva partilha do muito pouco que possuíam, enquanto se preparavam para uma vida melhor.
Este tipo de organização era muito pouco consentâneo com o demais Brasil, pelo que foi reprimido e extinto pela força das armas, na chamada “guerra dos Canudos”. Falam as crónicas que terá sido um massacre, já que todos os viviam no lugar de Canudos foram mortos pelo exército chamado a intervir, incluindo mulheres e crianças.
Acontece que esta fotografia foi feita uns quinze dias depois de ele ter sido morto.
Ao que julgo saber, terá sido chamado um fotógrafo militar, terá sido desenterrado o líder vencido, e feita a fotografia.
O intuito de tal “imagem macabra”, como muitos hoje lhe chamam, foi o divulga-la pelos jornais de todo o país, numa demonstração palpável e visível de que o líder temido estava realmente morto e que os ânimos poderiam serenar. Mais que uma perpetuação para além da morte, uma demonstração de morte.

Ou, se se quiser usar outros termos, uma demonstração de poder por parte do poder, usando a imagem fotográfica como testemunha incorrupta e os media como divulgação dessa mesma verdade.

By me 

Sem comentários: