quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Não é bonito



E é bonito ter feito esta fotografia? Não! Nada bonito, mesmo.
No entanto, foi uma tentação a que não resisti.
Esta janela, despudoradamente descoberta, bem como outras duas da mesma casa, rasgadas ao alto como os tectos, mostravam o interior de duas salas de uma mesma casa. Casa velha, talvez com um século, abeirada de uma via estreita mas com algum movimento e à distância de uma pedrada de um jardim frondoso e acolhedor, onde no quiosque que a esta hora estava apinhado de gente nas mesas a ler ou conversar, o balcão exibia um isqueiro pendurado por um cordel. Disse-me o dono que a quantidade de gente que ali vai pedir lume é incrível, bem de acordo com o bom negócio que faz em o tempo estando bom.
Mas antes de lá chegar fiquei parado no meio do passeio, mascando a minha pastilha e olhando para as janelas. Primeiro com os olhos, depois com a objectiva.
Não estava eu preparado para fotografar sob a mais que fraca influência das parcas e escassas luminárias públicas desta rua. Acredito que quem aqui mora ou caminhe gostasse de ver melhor os eventuais buracos na já bem velha calçada por onde se caminha. Mas a rua não seria a mesma e, quiçá, não me teria atraído o contraste do exterior com o interior. Mesmo sem tripé, e recorrendo à minha corrente de autoclismo, tentei dar um ar da minha graça, levando bem longe a capacidade do sensor da câmara no seu distinguir entre luzes e sombras.
Desta minha intrusão na intimidade de um lar que me é desconhecido e que assim ficará para todos os que isto virem, peço desculpa.
Mas não resisti a sorrir ao olhar para uma janela, depois outra, uma terceira em dobrando a esquina. E em todas verificar o mesmo:
Sem grandes pompas e com um certo ar de modernidade, as paredes estavam cobertas de livros. Uns mais encadernados e clássicos, outros desirmanados e de tamanhos vários, numa das paredes a estante notoriamente desarrumada, indicando um uso frequente…
Nesta casa, onde mora não sei quem nem quantos, gosta-se de livros!  
E isso foi motivo para, num início de noite amena (ou mesmo que o não fosse) fazer um registo indiscreto.

Digamos que fotografia e livros resulta num casamento quase perfeito e bonito. Ao contrário desta imagem.

By me 

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