sábado, 12 de dezembro de 2015

Almoço e café de Natal



Para ser rigoroso, este episódio aconteceu e foi escrito e fotografado há exactamente quatro anos menos uns dias, e aqui transcrito sem alterações. Em Lisboa.
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Juntámo-nos os três no autocarro: o seu motorista, eu mesmo, com a sacola às costas e a câmara no ombro e a freira de cinzento, que comigo subiu. O resto… o resto era uma imensidão de bancos vazios, que p’las duas e pouco da tarde de natal poucos são o que andam de autocarro.
Ao subirmos, avisou-nos o motorista com bonomia que tivéssemos atenção, pois que o fazer sinal de paragem ao autocarro, com ele tão perto, não é garantia que seja visto a tempo e que pare.
Pedi desculpa e agradeci, pois tinha sido o caso, e segui para o fundo. Mas a boa da freira, que se sentou no banco junto à porta, é que não esteve pelos ajustes e protestou, afirmando com veemência que tinha-o feito com antecedência.
“Temos discussão”, pensei. “O melhor é ir pôr água na fervura!” E regressei para junto da porta da frente, ficando a meia distância entre quem conduzia e quem era conduzido, o primeiro com bom-humor, a segunda deixando escapar entre-dentes um conjunto de protestos contra tudo e todos, pouco consentâneo com as vestes e o terço que trazia na mão.
E fomos palrando, eu e o motorista da Carris, que me parecia que, mais que sinais visíveis, queria ele era quebrar a solidão de uma autocarro vazio.
Da visibilidade dos sinais dos passageiros à visibilidade das bandeiras dos autocarros, passando por carreiras mais ou menos movimentadas nestes dias, houve de tudo um pouco.
Mas a maior preocupação dele era, sendo novato nesta linha, nesta tarde de natal onde poderia almoçar no local de terminus da carreira, ali ao Calvário.
Dei-lhe uma ou duas sugestões, sem garantias de estarem abertos neste dia, e terminei alvitrando que na esquadra de polícia, mesmo pertinho da paragem, haveriam de saber.
Desci ao cimo da Alvares Cabral, com a esperança de poder tomar um café na esplanada do Jardim da Estrela. Dos votos de “Boas Festas” com que me despedi, ouvi dele um “Igualmente”. Da freira, cinzentona por fora e por dentro, nada ouvi que não o seu resmungo que não sei se oração. Espero que tenha ido encontrar conforto e bom-humor onde quer que tenha ido. E que não tenha azedado por antecipação o almoço daquele simpático e bonacheirão motorista da Carris.
Um daqueles que, nestes dias, estão a trabalhar e de quem nem notamos a presença.
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Em modo de conclusão, posso acrescentar que passado algum tempo e nas virtualidades da net, acabei por chegar à fala com este mesmo motorista de autocarro que me disse que tinha encontrado aberto um local simpático e económico para almoçar.

Da freira nunca mais soube nada.

By me 

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