quinta-feira, 9 de julho de 2015

O anel





Ceptro ou faixa, coroa ou anel, todos são símbolos do poder.
Muito se luta em torno deles, para os possuir, para os manipular, para lhes por as mãos em cima e usar o poder que deles advém, nem que seja por uns momentos. “Mais vale ser rei por um minuto que plebeu toda a vida!”
Alguns destes símbolos, para além do poder da decisão e de influência que conferem, obrigam os demais, os súbditos, a vergar a espinha e a beijar a mão de quem possui o anel.

Mas “O anel que me deste era de vidro e se quebrou”…
O poder é efémero e dura tanto quanto o próprio anel. Já não pode timbrar documentos, já não permite decidir da vida e da morte dos servos, já não confere a autoridade de cobrar impostos e de cunhar moeda.
Quando o anel se quebra e a mão se torce, o povo julga.
Não numa sala e sem togas nem becas. Mas na rua e nos cafés, à hora do jantar ou na fila da repartição. Julga-se e condena-se. Ao ostracismo, ao ridículo, à ira e ao desprezo.
Por vezes ao poste ou à guilhotina. Mas raramente!

Aqueles que pelo poder passam, actuam a seu bel-prazer, decidindo e executando como entendem. Mesmo numa democracia, em que supostamente representam o povo, agem e decidem inconsequentemente. Na pior das hipóteses, é-lhes retirado o anel.
Excepção feita à opinião e ao julgamento popular.
Mas depois de o terem exercido, de terem o ego cheio (e algo mais eventualmente), bem pode o povo julgar, condenar, ignorar, que as suas ilustres nádegas já estiveram sentadas nas privilegiadas cadeiras, no dedo ficou a marca de tão brilhante anel.

O anel muda de mão, de cor ou de forma, mas a luz bruxuleante que atrai os insectos continua acesa, alimentada pela ingenuidade do povo.
Que pensa que ao votar está a decidir sobre quem o vai governar.
Alija a responsabilidade do seu destino sobre uns poucos que se babam alarvemente com a possibilidade de usar o anel.
E o anel na mão de uns é uma grilheta no pescoço de muitos. De todos nós.
Que achamos fácil o entregar as nossas próprias rédeas e nos sujeitamos ao beija-mão ao poder.
Entre os servos da gleba de então e a democracia de agora, a diferença está apenas na ilusão.
E no formato do anel.

By me

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