segunda-feira, 29 de junho de 2015

Autoclismos





À saída do trabalho costumo passar pelo sanitário. Lavo as mãos e deixo lá ficar outro tipo de dejectos que, em sentido figurado ou real, lá tenha adquirido. Assim, ao cruzar a cancela de saída, deixo ficar para trás algum do lixo que me tenha contaminado. Nem sempre o consigo, mas tento!
Desta feita encontrei um dos urinóis meio coberto por um papel onde nos informavam que o autoclismo estava avariado.
Tecnicamente falando, não se trata de um autoclismo, com depósito e descarga súbita. É, antes sim, um botão de pressão, cuja força, conjugada com a da água na canalização, regula o fluxo de limpeza.
Pensava eu nisto, frente à loiça do lado, e recordei uma historieta bem velha, com barbas ainda maiores que as minhas.

A Senhora Marquesa vivia num palacete antigo. Nos seus aposentos privados havia um sanitário igualmente antigo, cujo autoclismo era contemporâneo ao edifício. Colocado lá no alto da parede, junto ao teto, era accionado por uma corrente metálica com puxador de loiça decorado a condizer com as restantes da sala.
Acontece que, devido à idade, começou a junta de descarga a ganhar folga e a produzir uns pinguitos não muito simpáticos. Jarbas (nome eterno, junto com Baptista, para mordomo) tratou de telefonar para uma empresa de canalizadores a fim de resolveram a questão Com recomendações bem insistentes em que deveriam ser pessoas bem-educadas, já que estariam no interior dos aposentos privados da Senhora Marquesa.
O patrão da oficina escalou os seus dois melhores funcionários para o dia seguinte, acrescentando às instruções recebidas um sério aviso para o caso de não serem respeitadas.
Foram os homens e, no regresso, tinham o patrão à porta, à sua espera, esbracejando, protestando, gritando.
“Seus biltres, o que foram fazer!? Jarbas acaba de me telefonar, protestando contra o vosso comportamento, indigno da tarefa e local! Parece que andaram por lá aos gritos e palavrões!”
“Nós? Nem nada! Correu tudo impecavelmente! "
“Pois foi.”, acrescentou o segundo. “O furo reparado, o lixo e a água apanhados… Tudo muito bem feito. Só se foi quando eu estava a segurar a escada para o João tapar a fuga e eu lhe disse para ter mais cuidado, pois havia acabado de deixar cair um pingo de solda no meu olho!”

Acreditem! Saí do trabalho muito mais aliviado, bem-disposto, com um sorriso de orelha a orelha!

By me

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