domingo, 17 de maio de 2015

Negativo e positivo





O meu olhar foi atraído na montra por dois artigos: aquilo que me parecia ser uma lata de sardinhas com uma objectiva e um projector de imagens usando um smartphone como base.
Quando me mostraram a “lata” e percebi que se tratava de mais um artigo da “Lomo” franzi o nariz e disse qualquer coisa como “Pronto! Mais uma das da Lomo.”
“Mas porquê essa reacção?” perguntou-me um dos empregados. “Tem alguma coisa contra as Lomo?”
“Claro que tenho! A fotografia deverá ser feita com a melhor qualidade possível, nos seus diversos aspectos. O conceito das Lomo, que é a total descontracção e nenhuma preocupação com o que se faz, é a antítese da fotografia.
A falta de qualidade das objectivas, quais fundo de garrafa numa caixa de sapatos, pode ser usada como opção estética, como ferramenta comunicativa. Não como modismo para disfarçar a incapacidade de quem fotografa.
É um pouco como a diferença entre usar o termo “tirar uma fotografia” e o termo “fazer uma fotografia”.
Que o verbo tirar é negativo, de tirar algo a alguém, coisa que ensinamos as crianças a não praticar. Já o verbo fazer implica criar algo, construir algo de raiz, por vezes do nada. É uma atitude positiva.
E fotografar é um acto criativo, mesmo que partindo de assuntos e luz que não são nossos e que não dominamos.
O fazer negócio tendo por base a má qualidade do equipamento é usar o termo tirar no sentido original da palavra.”

Ficaram, ele e ela, a olhar para mim. Afinal, o negócio deles é o fast-food fotográfico, as modas efémeras, o low-cost qualitativo.
Mas saí eu de lá com algo que não esperava encontrar: um rolo fotográfico formato 110, e a informação de quem o processa. Terei assim, mesmo que seguindo modas inúteis, oportunidade de usar a primeira câmara que comprei, com os trocos possíveis de um estudante liceal com poucas posses. Que apesar de ser baratinha e cabendo no bolso, tinha e tem objectiva de vidro com a melhor qualidade possível para o tamanho e complexidade. 

By me

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