segunda-feira, 27 de abril de 2015

Uma questão de métodos e linguagem





A história é antiga. Antiga o suficiente para acreditar que talvez alguns dos que a possam ler agora à época não soubessem ainda ler. E, por um qualquer motivo, creio já o ter a ter contado on-line, não sei quando nem onde.
Mas como vem a propósito de uma situação de que soube recentemente, aqui fica.

Naquele tempo havia poucos com as minhas especialidades profissionais. O mercado, emergente então, ainda não estava preparado com mão-de-obra especializada para atender aos pedidos.
Por isso, alguns de nós, fora das horas de trabalho normais, íamos atendendo os pedidos externos, umas vezes aqui, outras ali.
Uma dessas empresas tinha por sócio-gerente um aldrabão. Pagava mal e a desoras, sendo sempre necessário umas conversas extras para que nos fosse entregue o que era nosso por direito.
Um dia, eu e um companheiro decidimos que já chegava.
Fomos à sede da empresa pedir o pagamento final em atraso. Com a firme decisão de de lá sairmos, pela última vez, com o dinheiro no bolso.
O encontro foi no gabinete dele, ele sentado, nós de pé. E a sua conversa a do costume: “Agora não convinha, talvez que mais lá para o fim do mês, nós telefonamos quando tivermos os cheques prontos…” o costume.
Acontece que eu estava mesmo já farto daquela conversa e não estive com meias medidas: Pondo as mãos na cintura, tal e qual um varina, e puxando o colete para trás, perguntei-lhe: “Então e como é que vai ser?”
O seu olhar esbugalhou-se, já que com o meu gesto deixara a descoberto, como que por acaso, aquilo que trazia do lado direito, entalado no cós das calças. Não era muito grande ou barulhento, mas fazia o seu serviço com eficácia. E eu sabia-me eficaz com ele.
O olhar de quem estava sentado à nossa frente dançou da minha cintura para a minha cara, da minha cara para a cara do meu companheiro, da cara dele para a minha cintura, umas poucas de vezes. Sempre em silêncio, que os argumentos estavam já esgotados.
Levantou a mão da secretária, pegou no telefone interno (foi há já bastante tempo, lembram-se?) e falou com alguém da empresa.
Algum tempo depois saíamos de lá, cada um com o seu cheque devidamente preenchido e assinado. Que fomos de imediato levantar, por via de dúvidas.
(Ressalve-se que conhecíamos um pouco do seu passado, e sabíamo-lo habituado a este género de argumentos, fosse ele a colocá-los, fosse ele o objecto deles).

Por vezes não são necessárias palavras ou tons de voz exaltados para resolver os problemas: uma mera sugestão de alternativas é suficiente.

By me

Sem comentários: