quinta-feira, 23 de abril de 2015

Ser Photógrapho





Numa escola onde trabalhei houve que, a dado passo, renovar todo o sector de fotografia. A disciplina ou módulo tinha ganho peso e importância e haveria que dar aos alunos os meios necessários às práticas e aprendizagens.

Tomada de vista e laboratório.

O laboratório foi construído de raiz por nós, eu e um compincha que lá também leccionava a matéria. Foram muitas e muitas horas de carpinteiro, electricista, canalizador, decorador… mas a coisa ficou que se visse: aspecto e funcionalidade.

Já a tomada de vista foi mais complicado: haveria que renovar o equipamento que, e é sabido, em saindo com os alunos torna-se perecível. Mesmo que com muitos cuidados e recomendações.

Os conjuntos incluíam: um saco, câmara, três objectivas, filtros e material de limpeza, um flash.

Os tripés eram à parte e não se incluíam fotómetros. A escola tinha um, cada um de nós tinha os seus que usava nas aulas, o que tinha a vantagem de ficarem os alunos a conhecerem vários modelos, marcas e formas de funcionamento.

Depois de pesquisado o mercado (não havia net nem compras on-line) lá se escolheu aquilo que seria possível considerando robustez, disponibilidade e orçamento. E apresentado o projecto a quem geria os dinheiros.

Foi uma discussão feroz. Não foi contestado nem marcas nem fornecedores. Nem valores.

O que foi negado foi a existência de três objectivas.

O projecto incluía uma 28-80, uma 70-210 e uma 50. E a argumentação por parte da escola era:

“Para que querem a 50mm se a 28-80 cobre isso?”

A questão da luminosidade ainda aceitavam; Afinal, em fotografia nocturna isso é vital. Agora o aspecto mais importante, a disciplina interior de ver com um só ângulo de visão e o domínio da perspectiva… isso foi bem difícil de engolir.

Lá acabámos por ganhar a causa. E ainda estou por saber se não entenderia mesmo ou se seria uma questão de marcar posição na gestão de dinheiros.

Não sei se o equipamento de então ainda existe. Passaram muitos anos, a tecnologia evoluiu, tal como os mercados e as mentalidades.

Mas ainda hoje continuo plenamente convencido que, e para além do domínio da luz, tanto em quantidade como em qualidade, o saber gerir a perspectiva, o saber mudar de lugar, o saber pensar o como vemos e não apenas o que vemos, é vital.

Tal como não tenho dúvidas que é o mais difícil de aprender e aquilo a que os estudantes ou alunos menos importância dão.



Vem toda esta história, velha de anos, a propósito do que vou vendo como conteúdos programáticos em cursos e workshops.

Por aquilo que vou entendendo, é dada demasiada importância à questão da medição e controlo da luz, em desfavor dos jogos de perspectiva.

E, caramba! A perspectiva é mesmo o que faz a diferença entre uma fotografia e uma fotocópia.

Formar fotocopiadores é particularmente fácil. Mais ainda nos tempos que correm, com os automatismos e os programas de edição. E o manual de instruções ajuda muito.

Agora ajudar a aprender fotografia… Se a perspectiva não for central e de relevância no programa de aprendizagem, não creio que valha o dinheiro que se paga!

By me

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