quarta-feira, 15 de abril de 2015

Escuridão





Há uns anos tive o raro privilégio de visitar uma exposição de fotografias para cegos.

As imagens, aéreas, estavam impressas em relevo e em alto contraste, preto, branco e cinzento. Os visitantes com visão eram convidados a colocarem uma venda e fazerem a visita, tentando ver com os dedos o que ali estava exposto.

Ao lado de cada exemplar estava um imagem convencional do mesmo assunto, bem como um texto explicativo impresso normalmente e em Braile.

Foi impressionante aquilo que eu não “vi” com os meus dedos, pese embora estar acompanhado por alguém da exposição, que me guiava e me lia o que estava escrito.

Tenho para mim que aquela exposição, que até teve pouca divulgação, deveria ser visitada por todos aqueles que se dedicam à comunicação. Visual ou outra.

Para que ali, confrontados com a realidade, se apercebessem do que é comunicar para gente com limitações físicas. Visuais ou auditivas. E para que ajustem o seu trabalho, ou saibam fazê-lo, para todo o imenso público que não consegue aceder ao que fazem.



Já no que toca a limitações cognitivas em gente dita normal, é muito difícil.

Que muitos são os incapazes de ver para além da superfície das imagens, dos sons ou dos textos.

São demasiados os que não entendem o sarcasmo, a ironia, o subliminar.

Comunicar para esses é, provavelmente, das coisas mais difíceis a fazer, bem mais que para um cego ou um surdo.

Que se é possível ultrapassar de algum modo o silêncio ou a escuridão permanentes, já a idiotice, a preguiça mental e a obstrução intelectual são barreiras quase inultrapassáveis.

Que os deuses nos protejam dos “cegos-idiotas” deste mundo.

By me

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