domingo, 22 de fevereiro de 2015

Sem importância





Esta fotografia tem alguma importância? Nenhuma!
Apenas que, enquanto esperava por um comboio que me haveria de levar ao meu destino, me recordei de um episódio, distante quase meio século dos dias de hoje.
Aconteceu ele numa histórinha de quadradinhos a que hoje chamamos de Banda Desenhada. Não faço já ideia de qual a colecção. Tanto poderia ser o Falcão como o Mundo de Aventuras como o Condor. Por certo que não seria o Jornal do Cuto, nem o Pisca Pisca, nem o Camarada, nem o Tintim. Contemporâneos, não faziam muito parte das leituras semanais ou quinzenais lá da rua. E eram mais caros, se a memória me não falha.
E a memória também não me diz quem seriam, em particular, as personagens envolvidos. Poderiam ser vários, que vários eram os heróis que nos inspiravam nas nossas aventuras fantásticas de ir até ao fim da rua ou, ousadia, passar para além da avenida. Claro que os prédios em redor, ainda em construção, prestavam-se às maiores loucuras e as fundações de uma escola por perto eram magníficas trincheiras. O que não tínhamos, e isso tenho por garantido, era montadas. Nem as grandes e brancas dos heróis de pistola ao cinto, nem as malhadas dos índios, sem sela nem laço… nunca foi por lá grande hábito o cavalo de pau, vá-se lá saber porquê.
Mas a história, de que me recordei e recordo, passou-se com isto: índios, cowboys, cavalos…
Estariam eles na pista de alguém, um mau p’la certa. E se os cowboys seguiam a cavalo, o índio pisteiro seguia a pé, olhando com atenção os indícios da passagem dos perseguidos.
A certa altura terá comentado um dos cavaleiros:
“Não seguiríamos mais rápido se fossemos todos a cavalo?”
Recordo do quadrinho onde o índio, de joelho em terra e cabeça voltada para os restantes, afirmava:
“Vê melhor a pista quem vai mais perto do chão”.

Nem uma nem outra têm importância. Nem a histórinha nem a fotografia. Separadas que estão por tanto tempo, difícil seria encontrar-lhes nexo. Excepto o fazerem ambas parte daquele percurso a que chamamos de vida, ainda que com uma ponte temporal tão grande a uni-las.
Mas certo é que ainda hoje refiro, implícita ou explicitamente, esse índio, quando afirmo que sou particularmente rico em vivências pelo facto de não ter carro ou mesmo carta de condução.
E é garantido que se eu me deslocasse de automóvel nunca teria a oportunidade de fazer esta fotografia, que não tem importância alguma. 

By me

Sem comentários: