terça-feira, 7 de outubro de 2014

Uma história



Há três anos foi mais ou menos moda: o planking.
Do que recordo de então ter lido, terá surgido de um grupo de estudantes britânicos que queriam provocar quem estivesse por perto. Vai daí, num local combinado e a um sinal combinado, deitavam-se no chão ou onde quer que fosse, empranchados e sem motivo aparente, provocando os olhares curiosos de quem estava ou passava.
Terá a moda passado para a Austrália que, como sabemos, não é conhecida por ser moderada nas práticas dos seus cidadãos. Aí a moda alastrou de modo diferente:
Continuando a assumir uma posição empranchada, o desafio era fazê-lo nos lugares mais improváveis ou de maior risco e fazerem-se fotografar. Divulgando de seguida a imagem do feito.
Tornou-se notícia, também por cá, quando um jovem o quis fazer na balaustrada de uma varanda alta e caiu. Fatalmente.
Tomei conhecimento da moda por uma reportagem televisiva que contava o acidente e a história da moda. E achei-lhe graça.
Achei graça à irreverência, não tanto aos riscos corridos, naturalmente.
E achei que poderia ser um projecto pessoal, fotograficamente falando. Fazer-me fotografar nessas circunstâncias. Seria como que uma série de auto-retratos, feitos onde calhasse. O desafio seria o conseguir fazê-lo, mantendo a minha própria integridade física  e conseguindo-o em modo solitário, recorrendo a um pequenito tripé e a uma câmara de bolso.
Fiz umas quantas. Uma mais arrojadas, outras nem tanto.
Como esperava, a coisa não foi inconsequente. Para além de alguma chacota por parte de alguns conhecidos e olhares estranhos por parte de muitos desconhecidos, houve ainda um compinhcha que decidiu alinhar na ideia. Com mais preparação física, fez algumas mais arrojadas e/ou difíceis de executar.
Foi divertido mas, e como todas as modas, morreu de velha, com pouca glória (que não queria) e muito olvido.
Sobrou a história desta fotografia em particular.
Uma noite diz-me um colega de trabalho:
“Eh pah! Já viste que está uma fotografia tua na revista “tal”?”
Tratei de ir saber e lá estava. A ilustrar um artigo sobre os perigos de uma moda maluca e de como alguns arriscam a vida por uma fotografia estúpida.
Não gostei. Nem um nico!
A fotografia fora feita por mim, da minha pessoa e a sua colocação on-line permitia (e permite) uma fácil identificação de quem a fez. Não gostei que se tivessem limitado a usar, para fins comerciais, sem uma palavrinha que fosse. A informar do uso, a solicitar o uso ou, em último instância, a propor algo em troca do uso.
Entrei em contacto com o director da revista em causa, que até pertence a um conceituado e grande grupo português de media.
Não foi fácil obter resposta, que até nem veio do próprio mas de um subalterno. E o que recebi foi um conjunto de justificações esfarrapadas, de pouco ou nenhum valor ético ou legal. Só quando puxei de galões e esclareci o onde trabalho surgiu um pedido de desculpas e a fotografia, bem como o artigo, foram retirados da publicação on-line. Ao que sei, nunca chegou a sair na versão impressa.

Serve esta história, pequenina e sem grande importância, para demonstrar como qualquer coisa colocada on-line pode e é usada à revelia de qualquer ética por qualquer um. E se enquanto for usada para fins meramente lúdicos pode até ser um reconhecimento de mérito a quem a fez, já quando se trata da imprensa, cujo objectivo é ganhar dinheiro, a coisa fia mais fino.

E acrescento que não adianta muito a colocação de uma identificação na imagem. Qualquer um, sabendo uns nicos de edição fotográfica, a disfarça até deixar de ser perceptível.

By me 

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