sábado, 12 de julho de 2014

Espaço



Em tempos trabalhei com jovens estudantes numa escola profissional.
Três a seis horas por semana, em regime modular e ao longo dos seis períodos em que se dedicavam à captação de imagem, fotográfica primeiro, videgráfica depois.
Éramos vários a trabalhar com aquela rapaziada e raparigada que queriam aprender para mais tarde exercer aquele (este) ofício de comunicar com a imagem técnica.
No pouco tempo de que dispus para trabalhar com eles, falámos de técnica, estética, ética, semiótica… os conteúdos que havíamos previsto e mais uns trocos que vinham a talhe de foice em função das suas perguntas e vontades.
Certo é que, apesar da escassez de tempo, nenhum deles se atreveu a chegar ao fim do curso sem saber o que é equilíbrio de planos, linhas de fuga e de leitura, gestão de espaço, ar de pessoas e objectos, perspectiva…
Por isso, e por tudo o mais de dali saíram a saber e saber fazer, me posso orgulhar de nunca ter reprovado um aluno. Até porque, se mais motivos não existissem, eles estavam ali para aprender e era nossa função garantir que tal acontecia.

Hoje em dia deparo-me com gente que se diz profissional, que ganha a vida a fazer imagem, que não sabe o que é uma linha de fuga, que não sabe equilibrar duas imagens consecutivas, que não sabe o que é o espaço próprio de um objecto.
Sei que não sabem porque os vejo agarrados ao equipamento e o que com ele fazem. E sei-o porque, e como quem não quer a coisa, troco umas opiniões com eles.
Claro que sabem (ou dizem que sabem) sobre equipamentos, gadgets, últimas novidades da tecnologia… Agora fazer um enquadramento que se veja e que de algum modo se ajustem ao que outros, ombro a ombro, com eles trabalham…

Mandasse eu alguma coisa e não se compraria gato por lebre.
Mas pensando nas linhas orientadoras dos últimos governantes, em que as palavras de ordem são competitividade e produtividade… Não me espanta.
Lamento-o mas não me espanta.
Mas uma coisa é certa: mais de metade dos que por aí andam não seriam aprovados nos cursos em que eu, e outros, leccionámos.

Que de carregar p’la boca só o bacamarte!

By me

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