sábado, 31 de maio de 2014

Prédios amarelos



Exercício com piada é fazer de conta que se está perdido.
Numa zona da cidade que conhecemos, pedimos a quem passa (mero transeunte, comerciante ou mesmo polícia) as indicações para se chegar a um qualquer local na zona que implique mudar duas vezes de rua, pelo menos.
O que acaba por ter mesmo graça é constatar que as indicações que nos dão para o mesmo local variam enormemente. Uns usam esquinas como referência, outros lojas (farmácias, drogarias, moveis, centros comerciais) outros semáforos, outros ainda contam quarteirões ou cruzamentos, alguns optam pelo caminho indo pela direita, outros pela esquerda…
Suponho que haja tantas variações quanto pessoas, e que dependem dos interesses de cada um, o género, a idade e, igualmente importante, se frequenta a zona sempre a pé ou geralmente a conduzir.
Uma das referências habituais são os edifícios incomuns. Ou pelo formato, ou pelo tamanho, ou pela cor… Se bem que a cor terá que ser incomum para servir tal propósito.

Um destes dias perdi-me em Lisboa, numa rua que conheço bem. Parei para acender um cigarro e observar o que por ali havia e, de súbito, não reconheci o local.
Tratava-se de um cruzamento conhecido por possuir um prédio bem alto, em betão e com uns trinta ou quarenta anos bem medidos, e cujas colunas exteriores em cimento, bem evidentes, sempre estiveram pintadas de amarelo. Era conhecido pelo “prédio amarelo”.
Pois desta feita, em olhando para ele, não o reconheci, que o pintaram de branco. E esta mudança é de tal forma que, durante uns segundos, não soube onde estava, tendo que passar ao modo “racional” para voltar a ter referências.
Felizmente, noutra zona da cidade, os “prédios amarelos” continuaram a sê-lo. Por muitos e longos anos, tal como os que já levam de vida. Ali para os lados do Júlio de Matos, que também já não tem esse nome formal mas que nunca será conhecido de outra forma.

Não há muitos prédios amarelos p’la cidade, mas convém que continuem a sê-lo para que não nos perdamos na cidade em que nascemos.

By me

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