domingo, 25 de maio de 2014

Doeu-me



Doeu-me! Juro que me doeu até ao tutano!
Eu a chegar àquele pseudo-reservado que é a cabine de voto, e um senhor junto a ela, com ar de quem está confuso.
Um bom bocado mais velho que eu, as cãs contrastavam com a tês escura e rugosa. As suas roupas, limpas, pediam meças na idade com quem as usava. Numa mão o boletim de voto ainda por dobrar, na outra a caneta. E olhava para o papel com os olhos bem abertos.
Quando me aproximei para fazer o que ali me tinha levado, pergunta-me ele, com ar atónito:
“Desta vez não concorrem?”
“Perdão?”, disse-lhe.
“O PSD. Não o encontro aqui na lista.”
“Ah! Desta vez concorre em coligação. Olhe: Está aqui, vê?” e apontei-lhe a linha e os símbolos.
“Pois é. Obrigado.” e virou-se para a pequena prateleira para fazer na privacidade aquilo que anunciara aos quatro ventos.
Doeu-me!
Doeu-me ver aquele idoso ir votar por seguidismo, ignorando por completo as propostas do partido em que quer votar.
Doeu-me ver aquela pessoa que, pelo aspecto e idade, mais tem sofrido que beneficiado com as decisões e governação daquele partido. E que, apesar disso, insiste.
Doeu-me ver-me na contingência de indicar a alguém o como votar naqueles que eu quero correr do panorama governativo.


Por vezes, ser coerente na prática da cidadania é bem doloroso!

By me

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