sexta-feira, 11 de abril de 2014

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Numa exposição de fotografia expõem-se três coisas:
-- As fotografias elas mesmas – o papel, a prata, os corantes, as molduras;
-- O que estava à frente da câmara no momento do clik – as pessoas e os lugares, as luzes e as sombras, as cores e as manchas;
-- As opções do fotógrafo – perspectiva, enquadramento, momento decisivo, suporte e dimensões, tema, e, implicitamente, os seus sentimentos.

Mas há uma quarta coisa que ali é exposta e que também é manipulada por quem expõe: o público.
Raramente o público aborda uma fotografia pelo que ela mostra, seja o que for. Não se deixa levar pelos eventuais pensamentos ou sensações que ela produz. Quer sempre mais. E mais. Não aceita a velha frase “uma imagem vale mais que mil palavras!”.
E vai à procura de palavras. Aquelas que estão em letras pequeninas numa pequena legenda em baixo ou ao lado.
Só mesmo depois de ler o que lá consta, mesmo que seja “sem título” é que se afasta um pouco para ver a fotografia. Tem que ter uma explicação. Tem que ser guiado na leitura da imagem.

Pela parte que me toca, tenho uma abordagem diferente nas exposições.
Dou sempre pelo menos duas voltas.
Uma primeira para apreciar cada imagem pelo que ela é. O que me conta. De que forma os meus sentidos reagem à forma e ao conteúdo. O que me recorda e como me surpreende.
Faço uma leitura sem letras, deixando que as minhas emoções venham à tona, sem guia nem preconceito.
Depois dou uma segunda volta, lendo então as legendas, tentando fazer uma correlação entre o que senti na primeira abordagem e aquilo que me querem levar a sentir com as legendas: tal lugar, tal acontecimento, em tal data. Por vezes sou surpreendido, para melhor ou para pior conforme os casos.
E, se tenho tempo, dou ainda uma terceira volta. Com a mesma duração, mas com menos paragens. Fico-me nas que mais me atraíram a degustar em profundidade.
Mesmo que não faça sentido!


Legenda: isto é uma retina. A minha retina.

By me

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