sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Livro de elogios



Tratava-se de uma daquelas lojas a que chamo de “inutilidades”.
Não havia nenhum motivo especial para espreitar pela montra, mas uma caixas/malas existentes no interior aguçaram-me o apetite: talvez que fosse uma delas a solução para ter arrumados os meus aparelhos de medida de luz. Não eram, pese embora serem bonitas.
Mas, já que ali estava, dei uma olhada pelo resto da existência que, neste tipo de loja, por vezes, encontram-se coisas bem interessantes. E fui dando uns dedos de conversa com a empregada. Pelo que percebi, também ela desejosa de conversar, que o negócio está fraco.
Até que dou com o aviso de terem o “livro dos elogios”, mesmo ao lado do aviso do “livro de reclamações”. Já conhecia a ideia, de uma reportagem televisiva, e pedi-lhe para fotografar a capa. O que ela, simpaticamente, acedeu.
Ali estive um nico, a tentar encontrar um enquadramento que me satisfizesse. Quando guardei a câmara no bolso perguntou-me ela, que tinha estado a observar a função:
“Então? Conseguiu?”
Não tinha eu feito nenhum negócio, pelo que não tinha motivo para usar o dito livro. Mas, mesmo que tivesse, qualquer vontade de o fazer se diluiria ao ser posta em causa a minha capacidade em fazer o diacho da fotografia.
Indo um pouquinho mais longe: tinha ela estado preocupada, e tentado ajudar-me com o posicionamento do livro. Explicava ela que a sua capa brilhante reflectiria as luzes do tecto. Talvez que, na sua boa-vontade, não saiba que mostrar esses reflexos aparentemente incómodos é uma forma de mostrar a matéria de que é feita a capa. Na sua ausência, ficar-se-ia sem saber se seria brilhante se mate. Da mesma forma que aquele “clip” no topo, que ela gentilmente quis retirar para o “boneco” lhe atribui uma indicação de escala. Tal como o ar dela meio estranho ao ver o que lhe mostrei, com a capa não inteira, me deu a entender que, do seu ponto de vista, o ideal teria sido eu ter usado de um scanner, mantendo integral a geometria do livro. Claro que se perderia por completo a perspectiva de proximidade e o mostrar que estivera ele, o livro, nas minhas mãos ou lá perto.
Não será esta uma fotografia convencional. E a minha dificuldade foi conseguir colocar num formato horizontal aquilo que é vertical. E não será, certamente, uma imagem digna de um qualquer prémio ou publicação em livro de honra.

Mas, que raio: eu não queria fazer uma imagem para um qualquer catálogo. E um qualquer estranho perguntar-me se consegui fazer a fotografia deixa-me pouco satisfeito.

By me 

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