domingo, 8 de dezembro de 2013

Sem nome



Fazer greve é um direito constitucional.
É uma das formas que os “de baixo” têm para mostrar o seu forte desagrado contra medidas tomadas pelos “de cima”.
Não é a greve bem aceite pelos “de cima” tal como não é bem aceite pelos que, sabendo o seu direito constitucional “proibido” pelos contratos a prazo, pelos recibos verdes, pelos maus fígados de entidades patronais ou chefias, temem pelo seu futuro.
E são inúmeras as vezes que vejo na comunicação social, ou em conversas comigo, gente particularmente desagradada com greves feitas por outros. Pelos incómodos que provocam, nos direitos de que se sentem sonegados, na raiva de se sentirem cidadãos de segunda.
No entanto, a maioria desses esquece que o fazer de uma greve não é um acto gratuito. Na lisura das relações laborais, não trabalhar significa não ser pago. E um ou mais dias de greve resultam em cortes no rendimento desse mês. Coisa que, na maioria dos níveis salariais, pode ser bem grave.

Há uns anos a empresa em que trabalho esteve de greve. Três dias consecutivos. Por outras palavras, uma greve que implicava um desconto de dez por cento no salário desse mês. Com a maioria dos portugueses sabe, é um corte importante.
Acontece que, e fruto da actividade que exercemos, nem todos estariam em falta se não fossem trabalhar nesses dias. Com as variações dos horários e dias de folgas, um ou dois desses dias poderiam coincidir com os dias de greve, não lhes sendo descontado o respectivo pagamento.
Sabendo de tudo isto, fiz uma proposta lá, no grupo de trabalho a que pertenço:
Criarmos um fundo de greve para minimizarmos o seu efeito.
Todos os que estivessem de folga nos dias de greve contribuiriam com o salário correspondente a esses dias para um “saco comum”. Cujo conteúdo seria distribuído igualmente por todos. O efeito, em termos de luta, seria o mesmo, mas as consequências para cada um seriam um pouco atenuadas.
Não consegui pôr isto em prática.
Para além de alguns olhares de indiferença, ainda ouvi algumas graçolas menos cordiais.
E, no entanto, desses três dias de greve eu estava de folga dois. Não estava eu a pedir mas antes a contribuir para o “saco”.

Solidariedade, para muitos, é uma palavra bonita que vem no dicionário, um movimento laboral algures lá para o nordeste europeu ou o que vem associado com algumas frases e fotos bonitas que provocam emoções e “likes” nas redes sociais.

Mas quando é para agir e ser solidário, real e anonimamente, longe das câmaras e dos grandes eventos…

By me 

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