sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

I D



Em 1992 estive nos Jogos Olímpicos de Barcelona, inserido na equipa que os transmitia. Em boa verdade, estava sediado em Terrassa, a uns 30 km da capital catalã.
As medidas de segurança eram muito rigorosas, pelo menos pelos padrões que conhecíamos por cá: cartões de identificação grande e obrigatoriamente visíveis ao peito, que continham fotografia, dizeres e um código de barras, pórticos com detectores de metais e inspecção visual de todos os sacos e malas em todos os locais considerados sensíveis, agentes de segurança e polícias armados em tudo quanto é local, carros blindados… aquilo era seguro mesmo, pelo menos dentro do possível.
De cada vez que entrava no estádio onde trabalhava era a mesma rotina: o cartão lido pela maquina e a respectiva confirmação visual, o pórtico que apitava com as chaves, o canivete, as moedas e etc, a minha mochila, cheia de tralha fotográfica e não só despejada e analisada pelos agentes… uma trabalheira para eles e para nós.
Ao fim de algum tempo as coisas abrandaram: o cartão era lido na mesma e o pórtico não podia apitar. Já a minha mochila, bem como a de alguns companheiros que comigo ali ombreavam, passa de largo, com um sorriso cúmplice dos e das agentes daquele portão. E umas piadas, ora em castelhano, ora em catalão.
Seria essa a altura certa para que algum de nós, com intenções pouco pacíficas, de fazer um atentado, já que tudo passava no saco. O hábito relaxou a vigilância. Claro está que não aconteceu e ainda por aqui estou para contar a história.

Isto tudo para servir de exemplo a uma notícia que li:
Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha, foi obrigado a exibir a identificação aquando da sua entrada na reunião do conselho europeu. E, ainda de acordo com a notícia, não adiantou que os seguranças do homem tivessem tentado intervir: teve mesmo que a mostrar.
Ainda que não explícita neste sentido, o que li aparenta demonstrar espanto perante tal atitude do segurança.
Só posso aplaudir a atitude. Apesar da prática acabar por demonstrar o contrário, ainda há quem pense que todos são iguais perante a lei e que o pratique. E que, em questões de alta segurança, não há identificações por conhecimento visual nem relaxe nas normas.

Espero que os superiores do agente que assim procedeu, bem como as instâncias diplomáticas, pensem como eu e que, no lugar de uma “rabecada”, lhe dêem um louvor.

By me

Sem comentários: