segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Coerências



Já é velhote, este talão. Em boa verdade tem três anos, confirmáveis, apesar de a data não ser visível, pela taxa de Iva indicada.
E é um dos poucos talões e/ou facturas (com c) que tenho. Peço-os e guardo-os para o caso de ter que activar a garantia do fabricante. Ou, noutros casos como o de equipamento fotográfico, para assegurar a legitimidade do que possuo, já que parte do que tenho foi adquirido usado.
Tenho uma caixinha, pequena, onde as guardo, tal como um painel de cortiça onde vão ficando as novas. A mais recente tem um ano, refere um fotómetro e já está cheia de pó.
As outras, aquelas que nos querem impingir a troco de tudo e por imposição governamental, acabam no bolso do colete durante uns tempos, até lhe fazer uma limpeza. Isto no pressuposto que recebo a tal factura (com c).
Que as mais das vezes quando me perguntam se quero factura (com c) a minha resposta é deste calibre:
“Eu? Não! Será que tenho cara de fiscal?”
Mas mudei o meu discurso. De agora em diante passarei a alternar com algo deste género:
“Se quero factura? Para quê? Pois se nem tenho carta de condução!”

Esta questão de incentivar o comum do cidadão a exigir factura (com c), transformando-o em fiscal e implementador de normas tributárias recorda-me, sem saudade alguma, o tempo em que cada um era um potencial denunciante de crimes de pensamento e acção, no tocante a bons costumes e política.
Mas também me faz recordar os excelsos exemplos daqueles que, consciente e deliberadamente, se recusaram a fazer o papel de bufos.
E se andam por aí a reclamar por um novo 25 de Abril, a sugestão que vos deixo é que não esperem que alguém o faça no vosso lugar e ajam. Todos os dias, em cada acto (com c) e pensamento.
Que a abstenção na cidadania é o caminho certo para o regresso ao passado que vamos percorrendo. Lamentavelmente.

- Nota extra: a referência a “cartão de crédito” neste talão também é histórica. Para além de errada, que não possuo cartão de crédito mas tão só de débito, foi uma das raras compras que fiz ao longo da vida recorrendo a ele.
Sempre que posso, e é a esmagadora maioria das vezes, pago o que compro em dinheiro. Vivo. Notas e moedas.
Os negócios que faço são privados e assim devem ficar. Para além da inevitável coscuvilhice fiscal.

Não me apetece andar por aí a dizer a um banco - entidade privada – o que compro ou pago a quem e quando. Não me apetece que, e para além do inevitável, existam registos da minha vida que não quero.

By me 

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