sábado, 10 de agosto de 2013

Guloso



Cá em casa o pão quer-se fresco. O que é uma contradição, se pensarmos que, na realidade, quer-se é quentinho, acabado de fazer. Pelo menos depois de se gastar o que por cá em casa haja.
Por isso, e em podendo, regulo as horas a que vou buscá-lo pelas horas a que sei que sai a fornada aqui no café da rua.
Fui por ele na hora do costume, seis e tal da tarde. Ainda não tinha saído. “Mais dez minutos”, disseram-me. E quedei-me, que a pressa não era grande, mas a gula sim.
Enquanto isso, quatro catraios estavam de volta da arca dos gelados. Uma com uns dez anitos, duas outras talvez com sete ou oito e um quarto com uns cinco.
Quando voltaram para o balcão mais a empregada, três gelados. Dos mais baratinhos. E o mais pequeno choramingava. Em contando as moedas em cima do vidro do balcão, todas pretas, diz a mais velha para o petiz: “Cala-te! Não vez que não há dinheiro que chegue?”
E cada um dos três mais velhos já a chupar o seu gelado de trinta cêntimos cada um.
Chamei a mocinha do café, depois de ter registado e guardado a venda, e perguntei-lhe se o pequenito não ia levar um gelado. “Não”, foi o significado do seu abanar de cabeça.
“Vai sim!” afirmei. “Vá lá com ele e escolha-lhe um que ele queira.” E foi.
Ainda bebi um café antes de o pão sair do forno e ser-me entregue. E, quando cruzava a porta, já com o negócio concluído, o “obrigado” que ela me disse compensou o que não ouvi aquando da saída da pequenada.
O pão, esse, ainda se aguentou inteiro o tempo de ser fotografado, mas rapidamente uma fatia recebeu manteiga e, pimba!, deglutido.
Que também eu sou guloso!


By me

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