sábado, 18 de maio de 2013

Orgulhoso de si




É assim que está, erecto e entalado entre outros dois, um mais jovem, outro bem mais jovem.
Nada o distingue dos demais da sua geração excepto, talvez, o estar ainda em aparente bom estado. Para satisfação de quem nele reside e de quem na avenida passa.
E ali estará, enquanto o madeirame estrutural, dos tabiques e dos soalhos se aguentarem e a voracidade dos construtores não o condenarem ao camartelo.
Olhando a sua fachada, quase que em preto e branco, apenas pontilhada pelo colorido de um vaso ou das respectivas flores, em nada se distinguirá dos demais.
Excepto, talvez, para quem olhe com um nico mais de atenção.
Que, se repararmos, cada andar tem um arranjo diferente dos demais. A distribuição das varandas, a altura das janelas, a cantaria… cada andar é único.
O número de rasgos na fachada é igual em todos, o que denota que a gestão do espaço interior é igual ou muito semelhante. Mesmo o último, com a sua varanda corrida e parede exterior mais recuada, tem a mesma quantidade de janelas. Apenas as águas furtadas se furtam a tal simetria.
Ou contribuem, com ela e por força da engenharia, para que cada apartamento seja único, seja “O” apartamento de quem lá vive.
Os residentes, em olhado para este prédio, não terão dificuldade alguma em identificar o seu espaço, aquele local reservado a que chamados de lar.
Os custos acrescidos, para o construtor, desta gestão de fachada terão sido quase nulos, quando comparados com uma qualquer outra, uniforme e enfadonha.
São estes pequenos detalhes de arquitectura que fazem desta cidade, como tantas outras, uma delícia de ir observando. A cada esquina, a cada cornija, a cada balaustrada.
Com vantagem para a cidade de Lisboa que, se bem que não muito bem conservada como bem sabemos, tem uma luz como só ela mesmo.
Da próxima vez que nela transitem, trabalho ou lazer, honrem quem a concebeu e vejam, no lugar de apenas olhar, o que a constitui. E, de preferência, não se limitem às montras e pisos térreos. É em altura, nos detalhes e no todo, frente e traseiras, que os edifícios e arquitectos mostram o que são e souberam criar.

By me 

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