terça-feira, 7 de maio de 2013

Contradições




É, certamente, uma contradição. Mas um tipo sem contradições não é um tipo: é uma pedra, apenas existindo.
Entrei naquela loja que vende destes pins. Claro que é um absurdo usar um símbolo que, por si só, significa a ausência de organização e, consequentemente, de símbolos. Mas esta é uma sociedade de ícones e comunicação e há que usar as condições existentes.
Em boa verdade não necessitava de o comprar: tenho um em uso. Mas é certo que volta e meia caiem-me da lapela e perco-os. E já mo pediram do outro lado do universo (ou quase). Donde, impunha-se que comprasse p’lo menos dois.
A loja situa-se num corredor de metropolitano e vende toda uma miríade de artigos impressos a pedido, na hora ou por encomenda: T-Shirts, canecas, pins, badges, etiquetas, cartões-de-visita, e tudo o mais que possa ser usado para publicitar uma ideia ou empresa. P’lo movimento que lhe encontrei, o negócio parece que resulta.
Quem me atendeu – quiçá o dono – é pessoa divertida, sempre com resposta na ponta da língua e bom humor estampado na cara. Trocámos umas larachas enquanto ele ficava a saber com exactidão o que queria eu.
E estávamos nesta quando entrou o que me pareceu ser um fornecedor. P’lo menos tinha um catálogo de artigos na mão e cumprimentou quem me atendia com muita familiaridade.
Conversa vai, conversa vem, e comenta ele que, em podendo, “matava” ele já não sei o quê ou quem, mas que seriam muitos de uma longa lista. Meti o bedelho e perguntei se poderia acrescentar alguns itens a essa lista de “morte”.
Ai diabo que tal disseste!!!!!
Começou ele num monólogo assaz exaltado, em que dizia bem saber o que eu queria dizer mas que até tinha votado no homem, que ele só pecava por ser frouxo, que nos faltava era um Salazar dos bons ou, melhor ainda, uma Thacther com eles no sítio e que eu bem que podia ir p’ro diabo com as minhas propostas.
Fiquei siderado! É que nem sequer tinha tido oportunidade de aventar um nome ou situação que fosse à tal “lista”. Aliás, nem sequer conseguiria dizer o que quer que fosse, que ele não dava oportunidade de resposta, tal era o ímpeto e a velocidade do seu discurso.
O dono da loja, por sua vez, olhava ora p’ra um, ora p’ra outro, com um sorriso discreto mas amarelo. Deveria conhecer bem o meu interlocutor e estar a rezar aos seus santinhos p’ra que eu não alimentasse aquela verborreia.
Fiquei-me com o pagar da despesa, uma ninharia, e desejos de boa-sorte àquele que assim agredia os que supunha não concordarem com ele.
E fiquei-me com a opinião que os cinquentas e muitos ou sessentas de vida deste pobre diabo têm-lhe sido demasiado amargos e corrosivos. As cicatrizes são evidentes.
Os pins, esses, já estão em casa, um em condição de reserva, o outro à espera de ser despachado com estampilha. E de espalharem uma mensagem que não se espalha: acredita-se e vive-se!
Mas vivemos numa sociedade de comunicação e de ícones, em que a contradição impera. E eu não serei excepção.

By me 

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