quarta-feira, 10 de abril de 2013

O anónimo




No meu trajecto para o trabalho, desço em Lisboa do comboio em que embarquei no meu bairro suburbano e subo para um autocarro que me deixa à porta do trabalho. Prático.
E é tanto mais prático quanto a linha do autocarro começar aqui. Em regra, e em o querendo, tenho garantido lugar sentado.
Mas sendo que há uma feliz desfasagem entre a chegada do comboio e a partida do autocarro, já conheço as rotinas dos motoristas.
Em chegando, param antes do ponto de embarque e deixam sair os passageiros que transportam. Fecham as portas e passam revista ao carro, suponho que para verificar a sua condição e se alguém terá deixado algo esquecido.
Em havendo tempo antes da partida seguinte, saem do carro e consomem-no numa pausa privada. Alguns para um cigarro, discretamente a alguma distância.
A poucos minutos da hora prevista, retomam o seu lugar, chegam o autocarro à paragem e deixam entrar quem ali estiver para tal. Quinze/vinte pessoas, talvez, àquela hora e naquela carreira.
E, quando o relógio bate a hora, fecham as portas e seguem.
Mas alguns há que têm um extra na sua rotina:
Olham atentamente para o lado da estação de caminho de ferro, vendo se alguém se estará a apressar para subir, correndo por entre os carros em trânsito ou estacionados. E aguardam uns segundos, inconsequentes para quem está a bordo, mas vitais para quem vem atrasado.
Pergunto agora, com carradas de ironia: quem se lembra do rosto do motorista do último autocarro em que viajou? Ou, elevando a ironia ao nível de Kafka, quem lhe sabe o nome?

Para todos esses motoristas que pensam nos outros o meu Obrigado com letra maiúscula. E em nome de todos aqueles que, ofegantes, subiram na vossa viatura.


By me

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