quinta-feira, 14 de março de 2013

Luz na noite fria




A noite já havia caído, tal como a temperatura. Tinha-se era levantado uma aragem com aspirações a vento que em nada confortava os que, como eu, tinham desembarcado do suburbano a caminho de casa.
Por tudo isto, as pressas em descer as escadas, cruzar as cancelas e seguir caminho eram muitas.
Menos eu. Faço questão de não me apressar nem a caminho de casa nem do trabalho. Nas outras circunstâncias ainda o pondero, mas não nestas.
Por isso mesmo, estava ainda na estação quando oiço “Olhe” Faz favor!” pronunciado em voz alta por uma senhora. Seria impossível não parar e olhar.
Estava ela junto à máquina Multibanco e dirigia-se a um cavalheiro que dela se afastava, já a uns seis ou sete metros. E ela esticava-lhe a mão.
Parado, olhei com mais atenção: a mão dela continha uma nota de dez euros. O homem, que tinha a carteira na mão, olhou, arrepiou caminho, recebeu e nota que guardou e foi-se embora. Corado e sem uma palavra.
Ficou a senhora a fazer o que tinha que fazer na máquina e eu especado a olhar para ela. Tinha acabado de assistir a algo bem raro e queria degustar o momento até ao último suspiro.
Interessante seria ficar com um retrato dela. Que o merecia e até ser emoldurado. Mas a hora, o local e o sermos de todo desconhecidos tornava impossível a tarefa de o fazer. Mudei de ideias e esperei que viesse para os meus lados. E abordei-a.
Disse-lha da raridade do episódio, de encontrar alguém honesto a este ponto, e pedi-lhe o seu nome. Só o primeiro.
Disse-me que estava com pressa, que o seu nome é L. e que não sabe ser de outra maneira na vida. E seguiu o seu caminho, sorrindo.
Apesar de ser já de noite, de estar frio e vento e de ter tido uma mão-cheia de más notícias durante o dia, este terminou iluminado pelo lado bom da vida.
Bem-haja, L.

By me 

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