domingo, 3 de fevereiro de 2013

... sem olhar a quem




O prédio em que moro é grande. Não será um arranha-céus ou um monstro, mas é grande.
Nove pisos acima, quatro abaixo do piso térreo. Com vários apartamentos por piso. É grande.
O seu tamanho e quantidade de fogos levou a que fosse construído com três elevadores, todos iguais e numa caixa central. Que, como se imagina, na horas de saída ou de regresso a casa, têm bastante movimento.
Hábito meu, antigo, é o de reenviar o elevador que uso para o piso zero. Gosto que esteja um ali quando chego e parto do princípio que todos os restantes moradores também gostam. Sempre são uns segundos que se ganham, por vezes em momentos de aperto.
E sei que sou o único a tal fazer, pelo menos por aqui. Dias há em que, em chegando, estão todos no nono piso. Não é grave que os outros o não façam. Mas gostava que assim sucedesse. Afinal, todos gostamos do mesmo.
Mas também há dias em que a vontade de o fazer é menor que unhas de formiga. Tenho vizinhos que nem a saudação dão, nem se dão ao trabalho de segurar a porta para quem vem atrás e, em olhando quem com eles partilha o elevador, parecer que lhes estamos a roubar ar para respirar.
Pergunto-me, nessas ocasiões, para que raio me dou eu ao trabalho de pensar e agir em prol destes e de todos os outros quando, para estes, o seu umbigo é a coisa mais importante do universo.
Por sorte colectiva, a minha raiva desvanece-se rapidamente e acabo por fazer o de sempre: mandar o elevador para o piso zero, ficando com a satisfação de saber que deste meu esforço de segundo e meio, se tanto, resulta benefício para alguém, incluindo esses tais. Mesmo que no anonimato de um gesto solitário.
Que a satisfação que tenho em fazer p’los outros é incomensuravelmente maior que a raiva que tenho p’los vizinhos egoístas. 

By me

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