quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Passei-me!




Eu estava do lado de lá. Mesmo na beirinha da passadeira.
Do lado de cá, também na beirinha da passadeira, uma senhora, já bem idosa, e o que pareceu ser a sua neta, talvez comuns cinco anos.
Entre nós esta passadeira, pintada de amarelo e devidamente sinalizada na vertical. Como manda o código.
Mas entre nós também havia um corrupio de automóveis, que ignoravam heroicamente, tanto as tentativas delas como as minhas e os respectivos olhares directos nos motoristas.
Pareci ser impossível atravessar aquele rio ininterrupto, que não respeitava o código da estrada, apesar de ser uma rua, em Lisboa.
Passei-me!
Ignorando as diferenças de peso e respectivas inércias entre carros e eu mesmo, avancei afoitamente à frente de um. Que vinha mais devagar, é verdade, mas que também não dava sinais de querer ceder a passagem. Acabou por ter que travar intempestivamente.
Avancei um pouco mais e, sem dar a passagem ao que tinha parado, fiz o mesmo ao que a seu lado também não queria parar. Creio que a minha presença nos asfalto, bem como os olhares que lhes deitava não deram azo a dúvidas: aqui temos prioridade!
E foi assim que, especado no meio da faixa de rodagem, fiz sinal a avó e neta para passarem. Que fizeram, com a calma própria das idades extremadas e a tranquilidade de não terem que correr para fazerem o seu caminho.
Os de trás apitaram. Talvez que se não desloquem nunca que não nos seus carros. Talvez que não tenham crianças pequenas ou idosos na família. Ignorei-os e aos seus motivos e buzinas.
Só mesmo quando as vi, em segurança, do outro lado da rua dali saí, com um sorriso e uma muito ligeira vénia para os automobilistas.
Não mo retribuíram, nem um nem outra. Mas também não o esperava.

Porque é que a fotografia não mostra esses carros todos? Tive que esperar uns bons dez minutos de câmara na mão para a conseguir fazer. Quando não, como mostraria que a passadeira lá está?

By me

Sem comentários: