sábado, 8 de dezembro de 2012

Jornalismo e justiça




São coisas como estas, e de outros matizes também, que me fazem considerar que alguns jornalistas e respectivos editores e directores se deveriam dedicar a vender pasteis de nata e deixar o jornalismo para gente séria!
O título diz: “Pai de juíza condenado a 20 anos de prisão por homicídio qualificado”.
É que não entendo a relevância de a filha de um homicida ser juíza! Será que é filha única? Que farão os eventuais irmãos desta mulher que teve o azar de o pai cometer um assassínio?
E como seria o título da notícia se a filha fosse cantoneira municipal, bibliotecária ou professora de inglês?
A importância da notícia, assim titulada, passa do homicida para a filha, quando o que é realmente relevante é o criminoso ter sido condenado.
Levando as coisas em tom de brincadeira (e isto nada tem de risível) um destes dias quando encontrar uma senhora que conheço e que é juíza poderei perguntar-lhe, com toda a legitimidade depois deste título, se foi o pai dela que cometeu o crime.
O jornalismo, tal como a justiça, tem o dever de proteger as vítimas, escamoteando-as à voracidade mórbida da populaça.
Esta mulher, para além da desgraça que lhe caiu na família (a vítima era seu ex-companheiro e disputava o poder parental de um filho comum) é assim exposta e arrastada nas ruas. Faltaria apenas, para completar o atentado à sua privacidade, divulgarem a respectiva fotografia e nome.

Os jornalistas que assim escrevem – e os responsáveis que isto sancionam – deveriam ser eles mesmos escrutinados até ao limite, transformando em notícias de praça pública os pecados e pecadilhos por si ou pelos seus cometidos.
Não como revanche, como há uns tempos veio a lume a propósito de um político e de uma jornalista, mas para que soubessem na carne o que é o uso abusivo do direito a informar.
E se a justiça se rege p’las leis e p’los factos que lhes são presentes, já a conduta jornalística deixa muito a desejar, como se tem vindo a constatar ao longo dos tempos, com a acusação, julgamento e execuções públicas, com factos e argumentos exacerbados ou escamoteados de acordo com tiragens ou audiências.
E ainda estou para ouvir ou ler uma retratação voluntária sobre divulgação de notícias que não correspondem à verdade e cujas consequências afectaram drasticamente os visados.

By me 

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