quinta-feira, 20 de setembro de 2012

À porta de casa




É assim que está a fechadura da entrada do meu prédio: o cabo eléctrico partido e sem sítio onde as linguetas prenderem.
Ficou assim há uns dias, fruto da acção de um qualquer vizinho desagradado com a dificuldade de abrir a porta. Pouco urbano, convenhamos.
Hoje, no regresso do café matinal, cruzei-me com uma vizinha. Ali mesmo, à porta. Desabafou ela:
“A porta está bonita, está!”
Encolhi os ombros e respondi com um “pois” que queria dizer tudo e nada ao mesmo tempo.
“Está uma desgraça, está!” continuou ela. “Ainda ontem vi aqui entrar tantos pretos… E nem moram cá!”
Hesitei entre um “pois” repetido, um par de estalos factual e um enxovalhanço. Optei pelo terceiro:
“Pois se calhar viu. Deveria ser a minha filha e os amigos, quando vieram jantar cá a casa.”
Ficou primeiro vermelha, depois roxa. E seguiu cabeça baixa para o carro da filha, que a esperava ali em frente.
Não sei se saberia que não tenho filhos, mas nada mais me dirá de racista, p’la certa.

By me 

Sem comentários: