terça-feira, 17 de julho de 2012

Vai com calma




A história é velha. Velha mesmo, datando da minha adolescência.
Fora eu convidado para jantar em casa da namorada. Pela primeira vez. Momento solene, de apresentação aos pais, com tudo o que isso significa. Mais ainda, se pensarmos que se passou há trinta e muitos anos.
Durante a refeição, onde tentei recordar todas as recomendações de boa educação e de comportamentos à mesa, puxei eu a conversa sobre a revolução e a guerra colonial.
Entenda-se que o pai da minha namorada tinha sido militar de alta patente e afastado do activo após a revolução.
O silêncio e os semblantes que vi nos restantes comensais não foram suficientemente elucidativos no momento. Que o senhor pegou no tema, empolgou-se com ele como era hábito – que eu desconhecia - e foi um descalabro de queixas, protestos e ameaças. O suficiente para azedar um bom pedaço o ambiente à mesa, só aliviado quando a mãe da minha namorada desviou a conversa, talvez que com a chegada da sobremesa.
Mais tarde, talvez no dia seguinte, disse-me aquela que ali me levara que aquele era tema tabu lá em casa e que ninguém o abordava pelas razões óbvias.

O tempo passou, o namoro acabou como tudo o resto na vida, eu e ela seguimos os nossos próprios rumos, amigos próximos, e parte dos intervenientes nesta história já faleceram.
O que não desapareceu foi a lição que nesse jantar e tão cedo na vida aprendi, indelével até hoje: saber avaliar as reacções de um novo interlocutor, bem como dos circundantes que o conheçam, e tentar evitar assuntos demasiado polémicos que, de uma forma ou outra, possam estragar o ambiente que se quer alegre e bem-disposto. Os indícios são, por vezes, mínimos, quase que imperceptíveis, mas dar por eles pode tornar-se vital.
Essa prática, umas vezes mais discreta, outras mais óbvia, tem-me evitado momentos de embaraço ou mesmo incompatibilidades.
É que, e como dizia a minha avozinha, “Viver não custa, custa é saber viver.”

By me

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