sexta-feira, 13 de julho de 2012

Sorrindo




Há muitos, muitos anos, era eu catraio pequeno, assisti a um acto fotográfico que me marcou indelevelmente. Ainda que só bastante tempo depois disso me tenha apercebido.
Fomos visitar um tio-avô meu, já muito doente e acamado, e pediu-nos ele que o fotografássemos. Depois de tudo ajustado – a dobra do lençol, o pijama, o cabelo – e no momento da obturação, ele ergueu o braço e acenou, sorrindo. Foi a sua última fotografia, já que morreu no dia seguinte.
Não sei, nem nunca saberei, se ele saberia que estava para morrer. Mas apostava bem forte em como ele não tinha dúvidas em como aquela seria a sua última foto. E fez questão que ela fosse alegre, com uma mensagem boa: um sorriso e um aceno de “Até”.
Catraio pequeno que eu era, na altura tudo isto não me impressionou em demasia. Até me ter recordado, bem mais tarde. Isto, o que mais sei deste meu parente, faz dele uma figura impar.
Hoje, e usando isto como ponto de partida e somando-o ao que entretanto vi, fiz e sei sobre fotografia, ainda me pergunto uma coisa: porque será que todos querem ser fotografados com um sorriso? Mesmo que seja o “sorriso p’rá fotografia”? E quantas vezes esse sorriso é forçado, não correspondendo nem um pouco ao estado de espírito do momento!

By me

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