segunda-feira, 25 de junho de 2012

Sinais dos tempos




Na minha rua há três cafés.
Em verdade há dois, que o terceiro fechou há meses.
Outro passou a ser o meu favorito, onde tmco a cafeína que me mantém, o bolinho que me agrada e o tabaco que necessito.
O terceiro, no meio dos outros, foi o meu habitual até há uns tempos. A falta de cortesia para com os clientes, o não possuírem a marca de cigarros que então fumava e o da ponta se prontificou a ter e o aumento dos preços fizeram-me desistir dele. Só lá vou por causa do pão e quando os demais estão fechados. É o caso da segunda-feira.  
Pois ao fim da tarde, preparava-me eu para pedir um café ao balcão quando um rapaz, na casa dos 14/15 anos pediu um copo de água. A resposta foi “Agora não posso, que estou a trabalhar!”
Estranhei.
A meio do café com salgadinho surge um outro, mais novo, com uma pequena garrafa de plástico, perguntando se a podia encher.
“Não!”, foi a resposta curta e pronta.
Franzi o sobrolho.
Ao pagar entra um terceiro que pergunta se pode usar a casa de banho. Na mão tinha uma garrafa de plástico vazia.
“Não pode!”, foi o que ele e eu ouvimos.
Nós os dois e uma senhora, já de idade, que sentada numa mesa perto da porta, também tinha assistido a tudo. E, antes ainda que eu pudesse dizer algo, falou ela.
Chamou a empregada e afirmou: “Olhe que água não se recusa a ninguém! Isso não se faz!”
A empregada encolheu os ombros e afastou-se, tal como o patrão, que se tinha aproximado.
Saí com vontade de ir a casa buscar uma garrafa vazia, voltar aqui e pedir para encher. E, depois de cheia, levá-la ao parque infanto-juvenil de onde tinham vindo todos eles. Que o dia esteve quente e as brincadeiras fazem sede, sabemo-lo.
E se não o fiz foi apenas para que não se suspeitasse do que a garrafa pudesse conter, que os tempos andam esquisitos, caramba.
Sei que os tempos estão difíceis. Sei que há um café, algures numa praia algarvia, que cobra por copo de água. Sei que não há obrigatoriedade formal em dar a quem não esteja a consumir.
Mas quem recusa água à gente jovem, num dia de muito calor, esperará que lhe façam o quê, daqui por uns anos valentes, quando estiverem acamados e não puderem, sequer, mudar as suas próprias fraldas?
É nos momentos de crise que o melhor e o pior de cada um vem ao cimo. E esse mesmo melhor e pior é moldado ao longo da vida.
Os meus mais sinceros agradecimentos àqueles que ao longos dos últimos tempos têm defendido com unhas e dentes a competição desenfreada. Estes são os resultados!

By me

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