domingo, 24 de junho de 2012

Publicidade postal – a praga dos tempos que correm




Há talvez duas dezenas de anos enxotei um distribuidor de publicidade nas caixas do correio.
O edifício em que então vivia tinha um aviso bem claro em como não o queríamos mas, mesmo assim, insistiu o rapazola em tocar às campainhas para entrar. Alguém fez a besteira de lhe abrir a porta e eu dei por isso através do intercomunicador do prédio.
Não fui de modas: desci rapidamente até ao piso térreo e perguntei-lhe se não havia visto o aviso. Ao mesmo tempo que empunhava um Colt Navy, cal. 36, uma réplica funcional das armas usadas pelas marinha Norte Americana na segunda metade do séc. XIX.
Naturalmente que não estava municiada, mas quem se preocupa com detalhes desses ao ver tamanho bacamarte? O susto que ele apanhou foi tão grande que ainda hoje deve correr, fazendo inveja a qualquer atleta olímpico.

Hoje, a meio da tarde, tocaram-me à porta. Era na entrada do prédio e ao inquirir sobre o que queriam ouvi, que não vi, duas vozes que pareceram de criança a pedir que lha abrisse. Como as não reconheci, ignorei o pedido.
Minutos depois, dependurava eu roupa que tinha a secar, e ouvi o que me pareceu serem as mesmas vozes, desta feita na rua por baixo da minha janela. E vinham repetindo, como quem está a aprender uma ladainha:
“Boa tarde. Somos publicidade para o correio. Por favor abra a porta.”
Debrucei-me para ver quem vinha repetindo semelhante texto p’la rua fora.
Uma petiza, talvez com 10 ou 12 anos, caminhava ao lado de outra figura feminina que, não dando para perceber com rigor a idade, era adulta jovem. E estava esta a repetir o que a mais nova lhe ia ensinando, pronunciando cada palavra como se de coisas novas se tratassem. Seriam, p’la certa!
Eram ambas asiáticas, e traziam as mãos cheias de panfletos comerciais. Que estavam já distribuídos por metade da rua, faltando a outra metade.

Felizmente que, desta vez, nem eu tinha o Colt em casa, que o usei então para efeitos fotográficos, nem eu estava c’os azeites. Que se a crise está o que está, imagine-se para quem está despatriado, sem ligações à terra onde vive e, p’ra mais, sem o domínio da língua.
Sobram os mais pequenos, para quem uma língua ou outra pouco importa, que as aprendem com facilidade. Assim os deixem conviver com os nativos.

By me 

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