segunda-feira, 2 de abril de 2012

Uma mensagem




Olá!
Numa fotografia minha teceu-me elogios que não mereço, pelo que acho que posso puxar de galões que não uso mas que me pôs nos ombros.
Em primeiro lugar adicionou-me a um grupo sem saber se eu queria ou não pertencer-lhe. Isso obriga-me a tomar uma decisão sobre um acto que a mim diz respeito mas sobre o qual não pude decidir: quero ou não pertencer. Mas é uma decisão “à posteriori”, ou seja: fico de braços cruzados perante um facto consumado sobre mim ou tomo uma decisão sobre um acto que me afecta e sobre o qual não fui ouvido? Qualquer uma delas implicará uma decisão minha sobre um acto seu a meu respeito, sobre uma imposição (a de pertencer a um grupo) que me fez. 
Não gostei! Não gostei porque acho que devo pertencer aos grupos que entendo e não aos que alguém entende por mim. E sobre a minha pessoa faço muita questão de ser eu a decidir. 
O que fez, ao tornar-me membro desse grupo é algo que pode ser equiparado a alguém torná-lo militante inscrito num partido político, ou sócio de um clube desportivo, sem lhe pedir opinião. 
Não creio que gostasse, tal como não gostei que mo tivesse feito.
Perante o que fez, posso fazer várias coisas, que ainda não escolhi: deixar-me ficar para ver como é o grupo e decidir da minha participação mais tarde, sair dele como entrei, mudo e quedo que nem um penedo, ou mostrar publicamente o meu desagrado. 
Agradeço que, de futuro, antes de me fazer parte seja do que for, me pergunte primeiro. Pode crer que será essa a atitude que tomarei a seu respeito.

Esta questão que me é crucial – a minha liberdade – passa por um dos campos mais basilares da Filosofia: a Ética. 
E uma das questões da Ética (meramente filosófica ou aplicada ao campo que a ambos agrada, a fotografia) tem um aspecto que, possivelmente, ignora: até que ponto é correcto (e não refiro a legitimidade) publicar a imagem de alguém sem lhe dar conhecimento prévio. 
Uma vez mais vou puxar dos tais galões que me pôs nos ombros e que entendo não merecer, para lhe dizer que quando recebi a minha primeira câmara fotográfica provavelmente os seus pais ainda se não conheciam. E houve algo que prendi instintivamente então, e que ainda ninguém me convenceu do contrário (e muitos e bons já o tentaram): a posse de uma câmara (fotográfica, videográfica ou cinematográfica) não dá direito ao seu uso indiscriminado sobre quem quer que seja, como se de uma arma se tratasse. 
O direito à imagem e à sua reserva está consagrado na Constituição da República Portuguesa, bem como na legislação subsequente. E no chamado “mundo ocidental”, latino ou anglo-saxónico, acontece o mesmo. Nalguns casos, os fotógrafos fazem-se acompanhar de impressos que apresentam a quem fotografam para que assinem, onde fica expressa a autorização de publicação dessas imagens. 
Fez várias fotografias minhas, sendo que não me conhecia de parte alguma que não fosse daquela mesa de esplanada em que nos encontrámos. Sem saber qual a minha opinião em ser fotografado. Levou mais longe esse seu acto e publicou a minha imagem num espaço que eu mesmo desconhecia, com comentários a meu respeito. Elogiosos, é verdade, mas comentários em qualquer dos casos. E sem disso me dar conhecimento prévio.
Nem a Ética nem a Lei o permitem. Nem eu mesmo. 
E eu, que faço fotografia e televisão há mais tempo que aquele que tem de vida, sempre respeitei e fiz respeitar o direito à reserva de imagem. E mesmo daqueles que me são próximos, faço questão em saber se posso fotografar e se posso usar. Sempre!
As excepções no fazer destas imagens e nas condições em que foram feitas ficam reservadas a quem possui carteira de jornalista. E estes, caso não saiba, regem-se por um código deontológico que, se for infringido, lhes pode custar o ofício e o emprego, para não dizer mais. 
Agradeço que, com a brevidade possível, retire do acesso público as imagens da minha pessoa que fez. E que destrua os respectivos originais. Acreditarei na sua palavra se mo disser que o fez. 

E se esta mensagem é violenta (e sei que o é) é-o porque:
1 – Me sinto violentado na minha liberdade ao ser inserido num grupo à revelia da minha vontade;
2 – Me sinto violentado no uso abusivo da minha imagem, sem que sequer tenha havido algum tipo de cumplicidade para tal;
3 – Estou a usar dos tais galões que me pôs nos ombros. E se tenho galões, divisas, estrelas ou dragonas, elas advêm de muito ler, fazer, ver e tentar aprender com os demais, independentemente da qualidade do que faço, que até é fracota. Mas há um aspecto em que acho que sou muito bom: em respeitar o próximo!

Cumprimentos
JC Duarte

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