quinta-feira, 26 de abril de 2012

Preço justo




Gosto de iniciar o dia bem-disposto, como depósito de bom-humor cheio e preparado para compensar as chatices que o quotidiano nos impõe!
Para tal, faço questão de me levantar com a antecedência necessária para fazer em casa coisas que me dão prazer, bem antes de enfrentar as que me dão desprazer.
Uma das que me incomoda, e que tenho vindo a ser obrigado a viver devido aos horários de trabalho que tenho tido neste últimos tempos, é a rotina. Já dei comigo a apanhar o mesmo comboio, vendo as mesmas pessoas a fazer o mesmo e, cúmulo da rotina, a irem ocupar exactamente os mesmos bancos. Irra! Haverá quem se sinta confortável com isso, mas eu não. De forma alguma.
Assim, hoje levantei-me um pouco mais cedo, prazenteei-me à minha vontade e saí a tempo de embarcar um comboio mais cedo. Nada de rotinas e com a vantagem de ter uns minutos extra para usufruir do acordar da cidade, ou quase. Que é algo sempre divertido de ver.
Assim, e já na cidade, desci a meio da viagem de autocarro para tomar um café e um esticar de pernas. Que nunca se sabe o que se pode fotografar.
Pois tiveram o desplante de me apresentar este talão, e cobrar, por um café, tomado ao balcão e que, ainda por cima, vinha com sabor a queimado.
Tive um ataque de bílis, toda a minha reserva de bom-humor se esgotou logo ali e a minha vontade foi apelar à ignorância e partir a loiça. Ou, pelo menos, largar uns impropérios adequados à situação. Não o fiz!
Entendi que, a bem da minha sanidade mental, haveria que retomar a boa-disposição, que o dia estava ainda a começar.
Já na paragem de autocarro que me haveria de levar até ao trabalho, parou um que não o meu. Que recebeu os passageiros que ali aguardavam, fechou as portas e preparou-se para iniciar a marcha.
É nesse momento que vejo uma mocinha que corria de lá longe para o apanhar. Dei uns passos, fiz sinal ao motorista, como se eu mesmo quisesse embarcar e encaminhei-me para a porta. Com muita calma. A calma e o uso de tempo quanto bastou para que a mocinha chegasse e subisse. Com tempo ainda para me dizer, bem ofegante, “Obrigada!”.
O sorriso com que me brindou, bem como o do motorista que se apercebeu do meu estratagema, repuseram os meus níveis anímicos como gosto: a boa-disposição bem mais alta que a bílis ou raiva.
E acabei por chegar à conclusão que o preço exorbitante que paguei por aquele café foi, afinal justo: de brinde dois sorrisos. Fiquei a ganhar!

By me

Sem comentários: