quarta-feira, 4 de abril de 2012

Prazeres fotográficos




Talvez que seja por ter vivido em plena adolescência a revolução da Abril e ter aprendido, acreditado e praticado que o futuro está nas nossas mãos.
Talvez que seja por ter crescido na fotografia a ver os trabalhos dos Mestres e a tentar saber como e porquê faziam eles o que fizeram.
Talvez porque um dos meus próprios Mestres fosse um sério defensor que os automatismos são feitos pelo Homem e que temos que ser nós mesmos a interpretar aquilo que outros programaram.
Ou talvez tenha a ver apenas com o meu mau feitio e não gostar que me imponham metodologias e formas de pensar.
Em qualquer dos casos, em fotografia (tal como em tudo o resto na vida) desde que me conheço que sou apologista que devemos pensar antes de fazer, mesmo que não saibamos que estamos a pensar.
E sendo que a fotografia é a escrita com a luz, há que saber interpretar a luz que usamos para escrever ou, por outras palavras, há que saber medir e ajustar a luz em função do que queremos registar.
Os fabricantes de câmaras, desde que o puderam fazer, incorporam medidores de luz e automatismos para regular a exposição fotográfica. São óptimos sistemas para as fotografias banais e óptimos auxiliares para quem queira ir um pouco mais longe. Mas há que saber interpretar as informações e indicações que nos dão esses automatismos.
Por mim, e desde que possa e tenha oportunidade para tal, gosto de fazer medições específicas, tanto incidente quanto reflectida, de modo a poder antecipar na medida do possível o resultado final.
Para tal tenho a panóplia completa dos diversos sistemas de medição de luz: contínua ou instantânea, reflectida de grande grau ou pontual, incidente, cor da luz… Aos bocadinhos, que o dinheiro nunca abundou, tenho vindo a adquirir os diversos aparelhos medidores. Sempre em situações de negócio de ocasião.
Ontem acrescentei um que me faz dar um salto qualitativo em diversos aspectos.
Num só aparelho, junto três funções: luz incidente, luz reflectida pontual e medidor de luz de flash. Com o acréscimo de algo que não tinha: luz reflectida pontual para flash.
Ganho no peso, no espaço e na operacionalidade. E numa função extra que me fez falta por diversas vezes. E comprado quase que ao preço da chuva, numa loja de artigos usados. Aliás, mais em conta que a chuva, quer rara que ela agora está, tem um valor particularmente alto.

Põe-se agora aquela pergunta vital: passo eu a fazer melhores fotografias com este aparelho?
Claro que não!
A qualidade do que fazemos depende muito mais das capacidades que temos que do material que usamos. Estes apenas ajudam, simplificam as tarefas e permitem aumentar o rigor.
Mas se não soubermos tirar partido das ferramentas, se não soubermos interpretar os resultados das medições, se não soubermos imaginar a imagem final ainda antes de premir o botão, tanto faz ter um aparelho destes como restringirmo-nos ao “japonês inteligente” que reside nas nossas câmaras.
Em qualquer dos casos, mesmo que não faça melhores fotografias, terei um pouco mais de prazer no fazê-las, coisa que é parte integrante e vital em todo o processo fotográfico.
Como em tudo o mais na vida. 

Texto e imagem: by me

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