segunda-feira, 19 de março de 2012

Ontem




Ontem aqui na rua, no bairro, na cidade, nasceu uma criança!
Como disse um africano, feita com muito, mesmo muito amor. Todas as noites fizeram um pouquinho mais, uma perninha, um bracinho, hoje a boca, amanhã os pezinhos… Nasceu saudável e mãe e filho estão bem. O pai está baboso e sorri para quem passa…

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, alguém precisou e alguém deu!
Uma moeda, um sorriso, um conselho, uma prenda, um ombro. Alguém ficou um pouquinho mais feliz por ter recebido e alguém ficou muito mais cheio por ter dado.

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, alguém leu um livro!
Romance ou histórico, técnico ou de ficção, alguém ficou mais rico, mais culto, com os horizontes mais largos e com mais temas para contar. E alguém foi lido, alguém fez passar a sua mensagem, o seu testemunho, a sua imaginação, o seu sonho.

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, alguém cantou!
Desenhou, escreveu, dançou, convidou para dançar, para contar as estrelas, para colher uma flor.

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, ninguém foi vítima de violência!
Não houve nem mortos nem feridos, assaltos ou explosões, acidentes ou violações. Ninguém ficou mais pobre na sua carne ou na carne da sua carne. As ambulâncias não saíram e as lágrimas não correram.

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, não houve notícias!
Não houve motivos para que os repórteres aqui viessem fazer intervenções em directo nem fotografias para as manchetes. Não inventaram frases bombásticas nem entrevistaram nenhum político local. Não passaram para segundo plano eleições nem vieram aqui procurar as chamas com que aquecem as gamelas de onde comem.

Ontem, aqui na rua, no bairro, na cidade, foi um dia feliz!
E os media ignoraram-nos!

By me

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