sexta-feira, 9 de março de 2012

O quebrar da rotina




Diz Susan Sontag, no seu excelente “On photography” que:

Nobody ever discovered ugliness through photographs. But many, through photographs, have discovered beauty.
Except for those situations in which the camera is used to document, or to mark social rites, what moves people to take photographs is finding something beautiful. (The name under which Fox Talbot patented the photograph in 1841 was the “Calotype”, from “Kalos”, beautiful.
Nobody exclaim “Isn’t that ugly! I must photograph it!” Even if someone did say that, all it would mean is “I find that ugly thing… beautiful.”

Eu acrescentaria, pese embora o abuso de qualquer comparação no pensamento, que raramente se fotografa o normal, o banal, aquilo que está sempre à nossa frente.
Não que tudo isso não mereça ser fotografado. Afinal, o Photógrapho reconstrói o mundo com o puzzle das suas imagens, fracções que são do “todo”.
Acontece que, as mais das vezes, o olhar não é atraído por esse “normal”.
Tal como os noticiários só relatam aquilo que sai da normalidade, aquilo que se entende por “digno de nota”, também o olhar do photógrapho se detém no que é “digno de nota”, naquilo que, de algum modo, quebra a rotina. Seja isso “bonito” ou feio a ponto de “ser bonito”.

A caminho do cafezinho matinal, quase vespertino, com a câmara pendurada no ombro, estaco na rua.
O meu olhar, que se limitava a vaguear enquanto garantia que não pisaria o indevido nem me atravessaria no caminho de um qualquer carro, prendeu-se nesta roda. De uma carrinha que está sempre aqui estacionada e que estou mais que farto de ver. Baixei-me, verifiquei se não estaria reentrante, contornei para confirmar se haveria mais assim, e acabei por fotografar esta quebra na rotina.
Falta um parafuso de fixação da roda.
É esta fotografia bonita? Certamente que não. Será ela feia? Também não creio que o seja.
É apenas uma daquelas coisas que prendem o olhar de um talvez photógrapho.

Texto e imagem: by me

Sem comentários: