terça-feira, 13 de março de 2012

O bife e o gesso




O dia não começou bem!
Levantar cedinho, em sincronia com o sol. Tinha onde estar de manhã e, para além do tempo de que necessito para a satisfação intelectual antes de sair de casa, certo é que as minhas temporárias limitações implicam o dobro do tempo de toilette pessoal.
Donde, acordar cedinho para não chegar atrasado.
Em chegando ao ponto de encontro, dentro do meu projecto “Trocas Fotográficas” ainda que desta vez um pouco à margem do habitual, toca-me o telefone. O dia também não havia começado bem a quem estava do outro lado, com avarias domésticas e acidentes rodoviários p’lo caminho, e o encontro ficou adiado “sine die”.
Assim sendo, preparava-me para um passeio pela zona, que não conheço em detalhe, quando sou abordado por um missionário de uma qualquer confissão cristã. Não desistiu com a minha resposta do costume (professo a religião shintoista, obrigado) e quis conversa. Não tinha eu melhor em que ocupar o tempo, e dei-lha.
Sendo particularmente culto, o que não é normal nesta actividade, a conversa correu bem até que levei eu uma nega: fotografia, mesmo que só dos olhos, é que não! Que nunca se sabe para que pode ser usada, que os tempos estão maus, que quem vê caras não vê corações… não fui malcriado, perante as suas insinuações, mas pouco faltou.
Acabei por ir ao meu passeio, ainda que pouco inspirado à conta do mau início de dia. Até que me deu a fome e comecei a pensar em almoço. Tratei de fazer pontaria para um misto de tasco e restaurante, com boa comida e em conta. Mais um fiasco: encerra à terça-feira!
Desço a rua a pensar mal, senão da vida, pelo menos do dia, e acabo por entrar num outro, onde só tinha estado umas talvez três vezes, em vinte e tal anos. Calhou!
Olhando para a ementa, fico indeciso entre escolher algo que seja cómodo só para uma mão ou correr o risco e pedir um bitoque, tendo que o cortar. Fui corajoso!
A empregada que recebeu o meu pedido regressou, passado um pouco e de mãos vazias, perguntando-me se eu quereria que na cozinha dessem um jeito à carne. E, ao dizê-lo, olha para o meu braço que repousava em cima da mesa.
Disse-lhe que não, muito obrigado, que tentaria desenvencilhar-me de algum modo.
E quando o bife veio, este que aqui se vê, repetiu a sugestão, desta feita alvitrando que tivesse eu dificuldades e ela viria ajudar.
Admitamos que não se vê nem ouve ofertas desta, a troco de coisa alguma, nem todos os dias nem mesmo todos os meses. O tê-la ouvido fez-me entender o porquê de toda a negatividade matutina. Que se uma só delas que fosse não tivesse acontecido, e p’la certa que não teria acabado neste restaurante e conhecido esta solícita empregada de mesa.
Quanto ao bife, de uma forma ou de outra dei conta dele até ao fim. Que não só o aspecto como o paladar o justificava. Isso e o provar a mim mesmo que não há desafios insuperáveis. Há, antes sim, formas de os enfrentar, com ou sem encorajamentos simpáticos vindos de desconhecidos.

Texto e imagem: by me 

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