domingo, 26 de fevereiro de 2012

Um homem não chora!




Hoje chorei por duas vezes. E há quem diga que um homem não chora!
A primeira foi logo quando saí da cama. Ontem devo ter arrefecido mais do que deveria e, vai daí, uma bela de uma constipação. Uma narina, e o olho do mesmo lado, a mostrarem, em fio, o que têm lá por dentro.
Nada que não conheça já, desde há muitos anos, e que o meu velho e fiel amigo “Aspergic” não ajude a resolver. Durou até um pedaço depois do almoço.
A segunda… bem, a segunda foi já perto das sete da tarde, na Praça da Figueira, em Lisboa.
Caminhava eu em direcção à estação de comboios, a caminho de casa, quando um homem, na casa dos vintes e muitos, trintas e poucos, me saúda e me pergunta pela mão.
Estranhei!
Por um lado, porque não o reconheci. Por outro porque, e devido ao frio e a mão engessada arrefecer mais que a outra, tinha-a escondida debaixo do casaco e colete. Perguntei-lhe como sabia. E esclareceu-me:
Era ele a vítima que os que me agrediram perseguiam e a quem tinham “arreado” forte e feito.
Saudamo-nos e contámos as mazelas um do outro, eu a mão partida, ele diversos hematomas no corpo, grandes galos na cabeça, golpes na cara e vergões nos braços e pernas, alguns músculos difíceis de mover, mas nada de partido.
E contou-me a sua versão dos acontecimentos, quase tão rocambolesca quanto eu a imaginava, com uns pinguinhos extras de racismo pelo caminho (mulato e brasileiro, ainda que legal e a viver por cá há anos).
Aproveitei e expliquei-lhe que “voltas” teria que dar, se quisesse, junto das autoridades, que se trata de um crime que a polícia e o ministério púbico tratam sem que tenhamos que fazer mais que apresentar queixa e comparecer quando chamados.
Não sei se o fará ou não. Mas o que fez, e que me deixou com algumas lágrimas a escorrerem-me pela cara quando se afastou, foi agradecer-me o ter sido eu a levar o primeiro golpe com o taco. Que quando chegou a ele parecia que a raiva tinha acalmado e não apanhou com tanta força. Quando não, disse-me, talvez que não estivesse ali para nos falarmos.

Um homem não chora, e menos ainda na presença de outros.
Mas a forma como aquele desconhecido me agradeceu e o facto de, talvez, o eu estar como estou ter evitado o pior a outrem…
Juro que valeu a pena a mão partida e as lágrimas que hoje de tarde e agora mesmo me correm.

Texto e imagem: by me