terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Uma questão de princípio




Precisei de comprar corrente. Nada de especial, daquela corrente a que chamo “de autoclismo”, para fazer um artefacto cá dos meus. Aliás, não seriam um mas antes três deles, pelo que queria qualquer coisa como seis metros de corrente.
Depois do almoço dirigi-me a uma dessas grandes superfícies de ferragens e ferramentas, entre outras coisas, de seu nome “Aki”, ali mesmo ao lado da estação do Oriente, em Lisboa.
Casacão vestido (de manhã tinha estado frescote), boné na cabeça, mochila fotográfica às costas e câmara pendurada no ombro.
Assim que cruzei a cancela, já no interior, diz-me o funcionário da segurança, fardado, cordato, mas firme no que dizia:
“Quer deixar o seu saco ali, nos cacifos?”
Não sei se usou o termo “cacifos” ou se foi o equivalente.
Hesitei um nico e, em tom igualmente firme mas com um esboço de sorriso nos lábios, respondi-lhe:
“Não!”
“Então, quando sair, vai ter mostrar o conteúdo do seu saco para verificarmos se não leva nada da loja.” Retorquiu-me.
Pela cabeça passaram-me os planos “A” e “B”.
O plano “A” seria recusar o que me dizia, chamar o responsável pela loja e dizer-lhe que não admitia ser assim tratado, ainda que educadamente. Que aquela atitude viola o princípio legal de “presunção de inocência até prova em contrário” e que estavam a presumir que eu teria intenções de furtar algo do estabelecimento. Acrescentar que “iria pôr a boca no trombone” em tudo quanto é lado, incluindo o local onde trabalho (dizer-lhe onde trabalho) para que se saiba como ali tratam os potenciais clientes. E sair sem ali fazer negócio algum.
O plano “B” seria nada fazer ou dizer, ir buscar o que queria com a maior das naturalidades e, à saída, quando quisessem revistar a minha mochila, recusar terminantemente e exigir a presença da polícia, exigindo também que me fosse feita uma acusação formal sobre o que teria eu furtado e que estaria na minha mochila, antes de qualquer revista ser possível.
O plano “B” implicava despender no processo uma ou mais horas (que eu tinha disponíveis) bem como o estar esse mesmo tempo todo de pé, bem como caminhar sabe-se lá para onde. E o meu artelho direito ainda não está para estas aventuras, ainda que me permita fazer uma vida quase normal.
Optei pelo plano “A”!
Isto que aqui estais a ler é só a pontinha daquilo a que eu chamo “pôr a boca no trombone”.

Texto e imagem: by me

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