quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Luis Sepúlveda




Sou um reincidente, mas não resisto!
Aqui ficam os primeiros parágrafos de “História de uma gaivota e de um gato que a ensinou a voar”, de Luís Sepúlveda.
O insólito, a solidariedade e os marginais num conto que ultrapassa os limites do belo.
Sei que já foi levado à cena em Lisboa e bem lamento não ter visto. Gostaria de ver como esta fábula foi encenada. Frustrações…

"- Banco de arenques a bombordo! -anunciou a gaivota de vigia, e o bando do Farol da Areia Vermelha recebeu a notícia com grasnidos de alívio.
Iam com seis horas de voo sem interrupções e, embora as gaivotas-piloto as tivessem conduzido por correntes de ares cálidos que lhes haviam tornado agradável aquele planar sobre o oceano, sentiam a necessidade de recobrar forças, e para isso não havia nada melhor que um bom fartote de arenques.
Voavam sobre a foz do rio Elha, no Mar do Norte. Viam lá do alto os barcos alinhados uns atrás dos outros, como pacientes e disciplinados animais aquáticos à espera de vez para saírem para o mar largo e ali orientarem os seus rumos para todos os portos do planeta.
Kengah, uma gaivota de penas cor de prata, gostava especialmente de observar as bandeiras dos barcos, pois sabia que cada uma delas representava uma forma de falar, de dar nome às mesmas coisas com palavras diferentes.
- As dificuldades que os humanos têm! Nós, gaivotas, ao menos grasnamos o mesmo em todo o mundo - comentou uma vez Kengah para uma das suas companheiras de voo.
- Pois é. E o mais notável é que às vezes até conseguem entender-se - grasnou a outra."


Imagem: by me

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