sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ómega



O plano Ómega é aquele plano que não está previsto em nenhuma antevisão em particular mas que faz parte integrante de todos os planos bem gizados. Em gíria chama-se “dançar de acordo com a música”.
Saí de casa com o firme desígnio de acrescentar algumas imagens ao meu projecto “Se eu fosse mais alto”. Este projecto, que se resume a fazer imagens de pontos de vista improváveis usando como recurso o monopé, implica andar meio de cabeça no ar, olhando o que é alto e que possa servir de assunto como primeiro plano na imagem.
Foi assim que, tendo saído um pouco mais cedo de serviço, me dirigi à gare do oriente, em Lisboa, onde esperava apanhar o metro que me levaria onde eu pensava vir a encontrar as condições desejadas.
Qual não é a minha surpresa quando sou abordado, ainda antes das cancelas do metro, por um agente da PSP. Mais ainda: exactamente o mesmo que me tinha feito alto e investigado dois dias antes, devido a eu transportar, às claras uma catana. Situação já aqui descrita, pelo menos em parte.
Desta feita, e apesar de eu ter comigo um comprido bastão basculando na mão – o monopé – a conversa foi bem mais amena. Tanto ou tão pouco que demorou mais de hora e meia (e eu a mandar às urtigas as fotografias do dia e a recorrer ao plano Ómega).
O que eu aprendi nesta longa conversa de semi-confidências com um agente de 26 anos estava bem longe de qualquer expectativa que eu tivesse para o dia.
Começando desde logo por ter ficado a saber que naquele outro primeiro encontro estive em riscos de ser alvejado, caso não tivesse reagido prontamente às primeiras instruções. OPS!!!!!
Mas continuou pela ineficácia da hierarquia, de como parte dos crimes que nesta zona da cidade acontecem poderiam ser solucionados (ou mesmo evitados) se a justiça não fosse tão célere a mandar para casa os que são detidos, de como a rigidez das áreas geográficas definidas impede actuações bem mais eficazes, de como delinquentes identificados são protegidos por outras forças policiais porque informadores, de como os agentes no terreno se sentem desapoiados pelos chefes… e como até que ponto se misturam os deveres de um agente da PSP com as vontades e necessidades de um cidadão. E que, talvez, numa próxima manifestação não tão pacífica quanto isso, o veja do meu lado da barricada.
Por vezes, o melhor plano de todos é mesmo o Ómega. Que bem mais importante que quaisquer fotografias são as pessoas!

(Nota extra: espero que não estivessem à espera que eu aqui mostrasse quem assim se expôs. Fica o monopé, em cima da mesa onde jantei. E bem.)

Texto e imagem: by me

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